Por paloma.savedra

Rio - O estado que vai receber os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no ano que vem, com a promessa de deixar o maior legado esportivo para sua juventude, é o mesmo que, nas últimas décadas, não conseguiu fazer o dever de casa. Um retrato da educação fluminense, com base nos dados do Censo Escolar, mostra que a maioria das escolas, públicas e privadas, no Estado do Rio, não dispõe de quadras poliesportivas, onde estudantes poderiam se exercitar, mas, principalmente, despertar o gosto pelo esporte. Das mais de 11 mil unidades escolares no estado, somente 5.185 possuem espaços recreativos.

Escolas da zona rural são as mais carentes de recursos. Na E.M. Major Theófilo de Carvalho%2C em Petrópolis%2C não há quadra e nem bibliotecaReprodução

“É uma vergonha. O legado esportivo ficará em instalações construídas na Zona Oeste para atletas de alto rendimento. Em países como Cuba e Estados Unidos, os futuros medalhistas são descobertos e formados nas escolas públicas”, diz um dos diretores do Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe) de Itaboraí, na Região Metropolitana, que pediu para não ser identificado temendo represálias.

A entidade encaminhou dossiê ao Ministério Público denunciando condições das escolas da região. Uma delas é a Escola Municipal Dr. Samuel da Silva Garcia, localizada no bairro de Manilha, em Itaboraí. Além de não contar com áreas de recreação, a unidade sofre com infiltrações e instalações precárias.

No Dossiê de Candidatura do Rio de Janeiro à sede dos Jogos, firmado em 2009, a meta era destinar R$ 5 para obras de legado, a cada R$ 1 aplicado em equipamentos olímpicos.

Nota baixa em inclusão

Um dos compromissos era investir, até 2016, US$ 400 milhóes (R$ 1,4 bilhão) no programa do governo federal Mais Educação, que desenvolve atividades culturais e esportivas no contraturno das escolas públicas. O mapeamento escolar, porém, mostra que a melhoria não foi sentida na maior parte dos colégios. De acordo com o levantamento, somente 65% das escolas fornecem refeições aos alunos.

Clique sobre a imagem para ver o infográfico do retrato da Educação no estadoArte O Dia

O incentivo à leitura também é restrito, já que apenas 46% dos colégios possuem biblioteca. Outros 48%, contam com salas de leitura. Os laboratórios de informática estão em 63% das unidades, e os de ciências, em só 16%.

Na avaliação da rede física, as maiores notas vão para o fornecimento de água filtrada, presente em 99% dos colégios, energia elétrica em 100% das redes e coleta de lixo, em 98% delas. Em 27% das unidades, o banheiro fica fora do prédio. No boletim, nove mil escolas ficariam com média 8, no acesso à Internet.

Por outro lado, a maioria das unidades seria reprovada na disciplina inclusão social. Segundo o levantamento, somente três em cada 10 colégios fluminenses possuem suas instalações adaptadas para receber estudantes com deficiência.

Alunos que fazem esportes têm melhor desempenho

Uma das três escolas da Prefeitura do Rio voltadas para a formação de atletas, o Ginásio Olímpico Juan Antonio Samaranch, em Santa Teresa, conquistou, no ano passado, o terceiro lugar no ranking das melhores escolas da rede municipal. No resultado do IdeRio, índice carioca que mede a qualidade da educação pública, a escola obteve 7,4, em uma escala de zero a dez. O desempenho, em 2014, superou o do ano anterior, quando a unidade tirou 6,5. No top 10 do ensino, outra escola olímpica, o Geo Doutor Sócrates, em Pedra de Guaratiba, elevou o índice, de 5,7 para 7,1, avanço de 24,5%.

Alunos do GEO Samaranch conquistaram o 3º lugar no ranking das melhores escolas da Prefeitura do RioUanderson Fernandes / Agência O Dia

Enquanto na capital, as escolas se beneficiam dos investimentos, na zona rural, alunos sofrem com um quadro de carências. Na Escola Municipal Major Theófilo de Carvalho, em Secretário, 4º distrito de Petrópolis, não há quadra e nem biblioteca para alunos da educação infantil ao 5º ano.

“Vemos grandes festas sendo realizadas pela cidade, praças sendo reformadas, só pedimos mais investimento na educação também na área rural”, critica a dona de casa MarleneMarcheori. Mãe de um aluno do terceiro ano, Elisabeth Carreiro reclama do acesso à escola. “Quando chove, muitos alunos perdem até cinco dias de aula, pois os carros não conseguem chegar até às comunidades”, diz.

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