Por paloma.savedra

Rio - Dois de abril deste ano. Durante operação do Batalhão de Choque na Favela Areal, no Complexo do Alemão, o menino Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, foi morto com um tiro. Em junho, o Governo do estado reconheceu a responsabilidade no caso e indenizou, por danos materiais e morais, os pais do garoto. De acordo com parentes, porém, “nenhum dinheiro do mundo trará de volta a felicidade para a família”.

Eduardo passou a integrar a macabra estatística de mortos em intervenções policiais na Capital, onde, segundo estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP), só no primeiro semestre deste ano, este tipo de ocorrência cresceu 22,8% em relação ao mesmo período em 2014 (172 óbitos contra 140).

Moradores do Complexo do Alemão durante um dos protestos contra o cotidiano de violência na regiãoDivulgação

No estado, o aumento entre os primeiros semestres de 2014 e 2015 (de 287 para 349 casos) foi de 21,6%. Ou seja, as operações das polícias Civil e Militar ocasionaram quase duas mortes por dia de janeiro a julho deste ano. O número foi mais de duas vezes maior que o do semestre de 2011, menor índice da década, com 151 mortes do tipo.

“Os números são irreais. São maiores. E as pessoas desaparecidas nas intervenções? E as mortas por policias fora de serviço, que não entram nas estatísticas?”, critica o advogado do Instituto de Defensores de Direitos Humanos, João Tancredo.

O relatório "Você matou meu filho", da Anistia Internacional, aponta que os assassinatos em ações policiais voltaram a crescer nos últimos dois anos, depois de seis anos em queda. De 2005 a 2015 foram 8.466 homicídios dessa natureza no estado, 5.132 deles só na capital. “É o resultado da força policial desnecessária, excessiva e arbitrária”, diz o relatório.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública alegou que tem registrado quedas desde 2008, com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). “Houve 20 mortes decorrentes de intervenção policial em áreas de UPP em 2014, uma redução de 85% se comparado a 2008 (136 vítimas). Ainda há áreas com guerra, mas é inegável a melhora nos índices. Os homicídios decorrentes de intervenção policial ainda está 32,9% abaixo do patamar de 520 registros do mesmo período de 2006”, diz o texto.

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