Por felipe.martins

Rio -  Área de atuação de milicianos, Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes registraram, nos primeiros seis meses deste ano, 74 assassinatos. O número representa uma média de 12 mortes por mês ou três por semana, segundo informações do Instituto de Segurança Pública.

A taxa de mortalidade da região é ainda mais discrepante se comparada a outras áreas da cidade. No Catete e em Botafogo, a média mensal de assassinatos em 2015 é de apenas um. Na Tijuca e em Vila Isabel, 0,85; e em Copacabana, 0,28. A média de Jacarepaguá e vizinhanças é superior até mesmo a registrada em zonas sacrificadas pelo conflito entre policiais e traficantes, como o Complexo do Alemão, onde a média mensal em 2015 foi de três óbitos, quatro vezes menos do que nos bairros controlados pela milícia na Zona Oeste.

“Os grupos que controlam território utilizam o extermínio como forma de impor suas regras”, resume o sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj. Segundo Cano, a estratégia das milícias é dominar áreas pela força e pelo dinheiro, recorrendo até a negociações imobiliária, como a noticiada ontem em reportagem do DIA sobre a venda da Favela do Jordão por R$ 3 milhões para traficantes do Comando Vermelho.

A violência nos bairros da Zona OesteArte O Dia

“A milícia, mesmo com uma retórica de impedir o tráfico de drogas, visa apenas o lucro. Já encontramos, em nossas entrevistas com moradores, milícias que toleram as drogas e até que traficam, em busca do dinheiro", avaliou Presidente da CPI das Milícias, concluída em 2008, o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol). "O discurso de ordem da milícia é falso. Na verdade, eles procuram se legitimar, elegendo representantes políticos. Costumo dizer que o tráfico 'é nós, já é', enquanto a milícia é 'vossa excelência', mas eles só querem o dinheiro e, para isso, não hesitariam em vender a comunidade para os outros criminosos".

Ações audaciosas dos milicianos ainda são vistas na região de Jacarepaguá e bairros próximos, mas a polícia identifica uma mudança de comportamento dos miliciano em outras áreas nos últimos anos. “Depois de 2009, com o aumento das investigações e prisões de milicianos, eles passaram a ser mais discretos, não jogando cadáveres em qualquer lugar. Antes, desovavam os corpos no meio da comunidade para aterrorizar os moradores”, explica Ignacio Cano.

Segundo a Secretaria de Segurança, até 2008, foram presos apenas 87 milicianos - em 2006, foram apenas cinco. Em 2009, após a CPI das Milícias da Alerj e o aumento de inquéritos, o número chegou a 229 no ano.

Eterna disputa entre traficantes e milicianos

A região de Jacarepaguá, além da influência da milícia, sofre ainda um guerra entre paramilitares e o CV. Além do Jordão, os traficantes que têm base no Morro São José Operário, na Praça Seca, planejam invadir a favela da Chacrinha, em poder da milícia. Outro alvo seria a Vila Sapê, comunidade vizinha ao bairro da Curicica, que sofreu invasões de traficantes da Cidade de Deus em novembro. A exceção, segundo as investigações policiais, seria a favela Rio das Pedras, onde os milicianos continuam controlando o cotidiano da comunidade.


Caminho do urubu e do terror

Favela surgida às margens do Rio Pavuna, a Vila Sapê é plana e, além de moradias simples, possui casas bem construídas. Os moradores, no entanto, já viveram períodos difíceis com disputas entre traficantes e milicianos.

"Sabe essa avenida aí em frente? Ela se chama Avenida Canal do Arroio, mas, para nós, é Caminho do Urubu, pois muitos corpos já foram jogados ali", revelou um taxista de 58 anos, apontando para a via que liga a Estrada dos Bandeirantes com a Avenida Embaixador Abelardo Bueno, endereço do Parque Olímpico.

A tensão subiu na Vila Sapê desde a prisão do ex-policial militar Roberto Ramos dos Santos Junior, o Betinho. Ele é apontado pela Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado (Draco) como chefe da milícia na Vila Sapê e foi preso no dia 20 passado. Para o deputado Marcelo Freixo (PSOL), as “regiões com mais assassinatos são também as de atuação dos milicianos. A morte é o braço do terror da milícia para manter o lucro e o poder sobre a comunidade”.

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