Por paulo.gomes

Rio - O ex-presidente do Uruguai e senador José 'Pepe' Mujica recebeu uma homenagem na manhã desta quinta-feira na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e sugeriu que os "políticos devem viver uma vida simples como a maioria, e não como uma minoria privilegiada". Ele falou sobre o momento político brasileiro e defendeu a descriminalização do porte e consumo de drogas.

"O Brasil tem força suficiente para superar as dificuldades que tem. O problema é que vocês se apegam ao derrotismo, e acham que nada serve para nada. Vocês têm um país maravilhoso, só depende de vocês para seguir em frente", afirmou Mujica, após a entrega do prêmio 'Personalidade Sur 2015', oferecido pela Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul.

'Políticos devem viver uma vida simples como a maioria'%2C disse José Mujica%2C ex-presidente do Uruguai%2C na manhã desta quinta-feira%2C durante homenagem na ABIJoão Laet / Agência O Dia

Sobre as manifestações a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, ele afirmou que muitas pessoas não se dão conta das mudanças sociais realizadas no Brasil nos últimos anos, e chamou de "loucos" os que defendem o retorno dos militares ao poder. "Qualquer democracia, por pior que seja, é melhor que os militares no poder", afirmou ele, que teve importante papel na luta contra a ditadura militar no Uruguai nos anos 1970.

No mês que vem, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá se o porte e o consumo de entorpecentes pode ser considerado crime. O senador uruguaio, quando presidente, sancionou a lei que coloca nas mãos do Estado a produção, distribuição e venda de maconha. "O narcotráfico é pior que a droga. Estamos fazendo uma experiência no Uruguai. Não sabemos no que vai dar. Sabemos que o que vinhamos fazendo não dava resultado. Se você quer mudar alguma coisa, não pode ficar fazendo sempre a mesma coisa. Isso multiplica a violência", opinou o uruguaio.

Mujica defende novo conceito de felicidade

Em discurso de 30 minutos para a plateia na ABI, Mujica falou da necessidade e da importância das utopias e de uma mudança no conceito geral de felicidade. "Por que uma pessoa, para ser feliz, precisa comprar um celular a cada três meses? Para que precisa de um novo carro a cada dois anos? Pagar contas é sinônimo de felicidade? É necessário tempo, para dar um beijo nos filhos, ficar com os amigos, com a mulher querida. Isso não é apologia à pobreza e à violência, é um outro tipo de riqueza", aconselhou Mujica.

Em uma mensagem sobre a esperança e a necessidade das pessoas continuarem acreditando na política, Mujica disse que "não se muda a realidade tomando café e fazendo comentários. Precisamos trabalhar com confiança, método e disciplina. Não há homens imprescindíveis, e sim causas imprescindíveis".

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