Rio - Em meio ao corre-corre inerente à rotina do Centro do Rio, relíquias do Brasil Colonial passam despercebidas aos milhares de olhos que diariamente percorrem a Avenida Rio Branco. Características do século XIX, as calçadas tipo pé-de-moleque se estendem por toda a via e estão entre as recentes descobertas feitas pela equipe de arqueólogos que acompanha a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) , além de um poço artesiano resgatado por em frente ao Museu de Belas Artes.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o material recolhido ficará sob a guarda da Uerj. Nos locais onde as relíquias foram encontradas, as obras foram interrompidas. Acostumados com os canteiros, poucos são os pedestres que se surpreendem com os vestígios que se revelam a cada nova escavação.
Embora não estivesse ciente de que caminhava sobre relíquias do Império, a enfermeira Eadvi Barbachan, de 29 anos, ressaltou a importância das descobertas para a preservação da cultura nacional. “Passo todos os dias aqui e nunca teria imaginado que havia essas descobertas. Devíamos saber mais a respeito”, disse a enfermeira “Nós temos mania de elogiar os monumentos históricos dos outros países, mas não valorizamos nosso próprio patrimônio. Acho que essas descobertas devem ser preservadas e expostas para visitação”, sugeriu.
O aposentado Antônio José de Morais, de 80 anos, acompanha o progresso das escavações desde as descobertas no Cais do Valongo, por onde passaram milhares de escravos. “Sou carioca da gema e tenho vontade de conhecer o passado da minha terra. Infelizmente, as pessoas não se interessam muito pela nossa cultura”, afirmou o aposentado.
Respeito e progresso
O advogado Vicente Scofano, de 75 anos, acha que não se deve “parar o século XXI em nome do passado”. “Temos tecnologia suficiente para recolher e divulgar as descobertas sem prejudicar o progresso”, declarou. “Nós somos fruto de um processo, não podemos descartar os fatos que nos precedem. A construção da nossa história custou o sangue de muita gente, que merece ser lembrada”, acrescentou.
Opinião parecida com a do empresário Pedro Franco Netto, de 60 anos. “É legal conhecer o Rio de antigamente, saber detalhes dos lugares. Mas o transporte é um serviço essencial que não pode ser interrompido. É preciso estudar, sim, mas dar continuidade à obra”, declarou o empresário Franco Netto.