Por paloma.savedra

Rio - As comunidades dos morros da Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme, que comemoraram o crescimento do turismo após a pacificação, ocorrida em 2009, já veem a queda do número de visitantes devido à volta da violência. Com a ocorrência de alguns tiroteios desde junho, comerciantes locais começam a reclamar da redução do movimento.

“Como pode ter guerra em um morro que é ocupada pela polícia?”, questiona um morador que pediu para não ser identificado sobre o conflito que está ocorrendo entre duas facções pelo domínio do tráfico nos morros.

Confrontos no Morro da Babilônia têm sido recorrentes e afastam turistas da regiãoMárcio Mercante / Agência O Dia

Segundo ele, que tem um comércio em uma das comunidades, os confrontos se intensificaram nos últimos dias e os turistas estão saindo da região. “Meu público reduziu em 60%. Eu planejava contratar mais mão de obra e, agora, talvez tenha de demitir”, contou.

Segundo moradores, há cerca de dois meses, traficantes do Morro da Babilônia, controlada pelo Comando Vermelho, teriam ocupado o Chapéu Mangueira, sob controle do Terceiro Comando Puro, o que desencadeou conflitos nas comunidades que eram tidas como muito tranquilas.

Em 24 de junho, Jeferson Jesus de Souza, 25, morreu alvejado quando estava em um bar. Na quarta-feira da semana passada, o corpo de Clayton da Silva Modesto, 17, foi encontrado no meio da mata, na Babilônia. Segundo a família, o adolescente que era morador do Pavão-Pavãozinho estava desaparecido desde o dia 21.

“A Babilônia está se recuperando, o clima não está pesado nem nada, mas houve uma diminuição grande na frequência”, conta Álvaro Maciel, sócio do Criolense Kitchen Bar. Segundo ele, o clima no Chapéu Mangueira ainda está complicado. “Lá é outra coisa, é mais pesado, mas o policiamento não foi reforçado nem nada”, reclama.

Para outro morador que também não quis se identificar, o problema também está na falta de policiamento e treinamento dos agentes. “Precisamos de policiais mais qualificados. Com o aumento no número de UPPs, pararam de qualificar”, aponta.

“O policial precisa fazer rodízio, quando faz amizade no morro, a coisa corre solta, não dá certo”. Segundo o guia e produtor cultural Dinei Medina, o número de turistas diminuiu substancialmente, mas ele crê que irá melhorar. “Não vamos nos entregar, temos que continuar trabalhando, a favela merece". 

Apreensões e prisões aumentam

Termômetros da guerra às drogas, as apreensões de entorpecentes e as prisões em flagrante aumentaram de janeiro a julho deste ano em comparação com o mesmo período de 2014 na Zona Sul. Nos bairros do Leme, Copacabana, Leblon e São Conrado, a polícia fez 518 apreensões de drogas contra 376 no ano passado, um aumento de 37,7%. Foram detidas em flagrante 764 pessoas (710 em 2014), alta de 7,6%, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Para o sociólogo e ex-oficial do Bope Paulo Storani, a atuação da polícia é necessária, mas não resolve a questão das drogas. “Por mais que o trabalho policial seja eficiente, o tráfico de drogas não vai acabar e não vamos conseguir prender e desarmar os criminosos sem uma política de fronteiras. Armas e drogas entram no Brasil e no Rio sem que se tenha controle algum”, avalia o sociólogo.

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