Por nicolas.satriano

Rio - Não é só no Chapéu Mangueira e na Babilônia que a volta da criminalidade após o processo de pacificação vêm provocando prejuízos a comerciantes e moradores, conforme O DIA noticiou nesta quarta-feira. O Complexo do Alemão, que assim como as duas comunidades da Zona Sul viu a economia se fortalecer com o turismo após a instalação da UPP, tem amargado duros golpes por causa do aumento dos conflitos na região.

Segundo um comerciante local que pediu para não ser identificado, com o aumento da violência, os moradores que viviam do comércio e do turismo não têm mais suas fontes de renda asseguradas. “Aqui está, a cada dia, pior.” Ele, que há dois anos planejava o aumento das vendas com a chegada da Copa do Mundo, viu, às vésperas da competição, uma guerra estourar e as vendas despencarem. “Era muito bom, agora não resta mais nada.”

Com medo de ter suas marcas associadas aos conflitos constantes, dezenas de empresas saíram do Complexo, projetos sociais foram abandonados e a população ficou à mingua. Segundo moradores, além dos conflitos entre traficantes e policiais, há duas milícias rivais que atuam na região. “O que me deixa revoltado é que todos os dias têm tiroteios. Para que tantos tiros? Só queria trabalhar em paz, sustentar minha família”, diz o comerciante.

Ele não é o único a passar pelo problema. Segundo uma vendedora que tinha uma barraca na feira acontecia aos sábados na localidade das Palmeiras, a violência assustou os fregueses e a única solução foi sair da favela. “Moramos aqui, mas temos que vender em feiras pela cidade para nos mantermos, é muito triste.”

A solução não pode ser partilhada por Marcelo Ramos, que possui o Bistrô R&R na Nova Brasília. Ele sofre com a queda no número de clientes que vinham de todos os cantos do Rio ao Alemão para experimentar os chopes artesanais que ele elaborou junto a esposa, Gabriela Romualdo. “Muita gente tem medo de vir agora.” Para aquecer as vendas, ele planeja um festival de ‘foodtrucks’ no complexo. “Também vou lançar um novo rótulo de cerveja mês que vem, temos que nos reinventar e continuar.”

Teleférico terá nova operadora

Ao término do contrato de concessão, neste ano, a SuperVia não quis continuar com a operação do Teleférico do Complexo do Alemão. Segundo a empresa, o transporte que, em 2014, teve uma média de 12 mil passageiros por dia, hoje recebe 9 mil. Em nota, a Secretaria de Estado de Transportes informou que, até 14 de setembro, uma nova concessionária deve ser escolhida.

Sobre as reclamações de tiroteios constantes, o Comando das UPPs (CPP) informou em nota que os desafios do processo de pacificação do Complexo do Alemão envolvem maior aproximação com a comunidade e o trabalho diário de enfrentamento do crime. Segundo o CPP, as polícias têm feito o seu papel, mas reconhecem que ainda estão distante do ideal.

O CPP informou ainda que a denúncia sobre atuação de milícias é de responsabilidade da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco). A Secretaria de Segurança afirmou que não comenta as investigações da especializada.

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