Rio - O policial militar Paulo Roberto da Silva admitiu em depoimento nesta terça-feira na Delegacia de Homicídios (DH) que foi o autor do disparo que provocou a morte do adolescente Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, no Morro da Proviência, na região central da cidade, no dia anterior. No depoimento aos agentes da DH, o policial alegou que a arma vista no vídeo que chocou o país era de Eduardo e decidiu disparar porque o jovem esboçou reação quando abordado pelos PMs.
Após o depoimento, a Justiça do Rio decretou a prisão preventiva dos cinco policiais militares suspeitos de alterar a cena do crime, colocando uma arma na mão do menino. Toda a ação foi gravada em vídeo por moradores da comunidade. O jovem foi baleado na localidade conhecida como Pedra Lisa, na parte alta do morro.
O corpo de Eduardo foi enterrado, nesta tarde, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Apesar dos protestos durante o sepultamento, que contou com cerca de 100 pessoas, não houve tumulto. Na chegada e saída do cemitério, o ônibus com amigos e familiares do adolescente foi escoltado por quatro motocicletas e duas viaturas da PM.
Patrícia, mãe de Eduardo, estava completamente abalada e levava rosas brancas nas mãos durante todo o enterro. Ela não falou com a imprensa. Muitos amigos e familiares usavam uma camisa com o rosto do jovem morto.
"Ele era coroinha da igreja de Santa Rita de Cássia, no Centro. Era um garoto bom de coração, maravilhoso, que desviou o caminho de uma hora para outra e aconteceu isso. Se não fosse a filmagem, seria mais um caso de bala perdida ou mais um caso impune. Infelizmente não há projetos sociais, nem escola, nem educação para estas crianças e o tráfico se aproveita disso", disse Railda França, amiga da família.
Pablo Rodrigues, ex-morador da Providência, falou da sensação de insegurança que há na comunidade pacificada. "O estado tem que atuar de forma pacífica, e não agindo com violência. Simplesmente foi uma execução. Hoje vou a Providência com medo", revelou.
Na saída do cemitério, muitos voltaram a gritar por "Justiça" dentro do ônibus e chamavam a polícia de "assassina".
Prisão decretada pela Justiça
De acordo com a juíza Maria Izabel Pieranti, do Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) há provas suficientes contra os agentes. “Considerando o teor das filmagens veiculadas pela mídia, aliado à documentação acostada, tenho que resta claramente demonstrada a conexão probatória existente entre o crime de homicídio decorrente de intervenção policial e o crime de fraude processual. Desta forma, entendo necessária a decretação da prisão preventiva”.
Segundo os autos, os policiais militares Eder Ricardo de Siqueira, Paulo Roberto da Silva, Pedro Victor da Silva Pena, Riquelmo de Paula Geraldo e Gabriel Julião Florido, todos lotados na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro da Providência faziam uma operação policial de repressão ao tráfico de drogas na parte alta do Morro da comunidade, quando entraram em confronto com três homens armados.
Em outro trecho da decisão, a magistrada diz que “é inadmissível que agentes da lei, encarregados da manutenção da ordem pública e da regular persecução penal, procedam à alteração de cenário criminoso, visando ludibriar perito ou magistrado e garantir a sua impunidade pela prática de crime anteriormente praticado, in casu, de homicídio”. O crime será julgado por uma das varas do Tribunal do Júri da capital.
Ônibus apedrejados
Doze ônibus da Viação São Silvestre foram apedrejados na manhã desta quarta-feira na região do Morro da Providência, no Centro, e um motorista da empresa acabou ficando ferido no peito e foi encaminhado para o Hospital Municipal Souza Aguiar. O clima na comunidade está tenso desde a morte do jovem Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, na tarde de quinta. Segundo o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a região está com o policiamento reforçado após os protestos de ontem.
De acordo com a Secretaria de Estado de Educação, a escola Caic Joaquim José da Silva Xavier está com suas atividades suspensas nesta manhã. Com isso, 300 alunos estão sem aula. Já a Secretaria Municipal de Educação afirmou que suas unidades estão funcionando normalmente. O teleférico também opera regularmente na comunidade.
Com informações dos repórteres do DIA Maria Inez Magalhães, Diego Valdevino e da Agência Brasil