Por bianca.lobianco
Rio - Às vésperas do Natal, crianças de 6 a 14 anos do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, comoveram os policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local. A pedido dos agentes Ranieri Araújo Campos e Wellington de Paula, que dão aulas de judô e futebol na comunidade, cerca de 150 meninos e meninas escreveram cartinhas a Papai Noel, mencionando o que gostariam que o Bom Velhinho lhes trouxessem de presente.
A soldado Roberta Guimarães%2C cercada por crianças do Morro dos Macacos%3A pedidos surpreendentes Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

“Surpreendentemente, em vez de brinquedos tradicionais como bola, bonecas, bicicletas, jogos eletrônicos e celulares de última geração, que viraram febre nessa faixa etária, a maioria preferiu solicitar mais paz, amor e união nas próprias famílias, além de moradias mais decentes, empregos para parentes e o fim de confrontos e mortes nas favelas”, ressalta a soldado Roberta Guimarães, de 32 anos, que organizou campanha para arrecadar donativos no morro.

Cartas que revelam drama e esperançaDivulgação

Numa das correspondências, um garoto pediu a Papai Noel que, “se fosse possível, trouxesse o pai de volta, morto num tiroteio”. Um outro escreveu que espera que em 2016 haja “menos confusões e racismo”. Uma estudante pediu mais igualdade social e menos “tiros na comunidade”. Uma colega dela pediu proteção divina para os PMs “continuarem levando mais esporte e alegria” às áreas mais miseráveis.

A UPP Macacos, que abrange as comunidades Pau da Bandeira, Parque Vila Isabel e Alto Simão, áreas vermelhas (de alto risco de violência), funciona desde 2010, com 220 policiais. Atualmente, os projetos sociais que envolvem crianças e idosos são um dos mais sólidos das 38 UPPs da cidade.

Criança fala sobre moradia em uma das cartasDivulgação

“Estamos orgulhosos de perceber que nossa atuação tem resultado numa mudança positiva de consciência dos futuros adultos da região, que ainda é muito castigada por falta de recursos públicos em geral”, diz a comandante da UPP, capitã Paula Apulchro, lembrando que os PMs que dão aulas de judô e futebol não portam armas em suas atividades.

O sociólogo e cientista político Paulo Baía, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, diz que as “respostas sinceras” das crianças do Morro dos Macacos sinalizam uma relação positiva entre a PM e a comunidade. “Isso, sim, é resultado de uma política bem sucedida, pelo menos naquela comunidade, de proximidade. As cartas não revelam apenas o grau de sofrimento de cada autor, mas também sua esperança por dias melhores, que não necessariamente são traduzidos em bens de consumo”, opina.