Jacques d’Adesky, economista pela UCL e doutor em antropologia pela USPDivulgação

Por Jacques d’Adesky*
No início dos anos 1980, o Brasil marcava importante presença econômica e comercial em numerosos países africanos, tais como Nigéria, Egito, Líbia, Gabão e Congo, entre outros. Através das linhas aéreas da Varig, o país se conectava diretamente com Dakar, Lagos e Abidjan, cidades do Senegal, Nigéria e Costa do Marfim, respectivamente. Importantes companhias brasileiras de construção civil, como Mendes Júnior e Odebrecht, atuavam de forma dinâmica no continente africano, construindo estradas, pontes e usinas hidrelétricas.
Esses anos foram uma época de ouro das relações econômicas e comerciais Brasil-África. Entretanto, o tempo passou e agora novos atores conquistaram um lugar de destaque no mercado africano, como a Turquia e sobretudo a China. Este país asiático tornou-se, no decorrer dos últimos 20 anos, o principal parceiro comercial da África, destronando até mesmo França e Grã-Bretanha, antigas metrópoles coloniais.
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O Brasil introduziu o tema “História e cultura afro-brasileira e indígena” em seu currículo oficial de ensino, por meio da Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, emendada pela Lei 11.645 de 10 de março de 2008. Apesar disso, observa-se no país que ainda hoje pouco se sabe sobre a África. A não ser os especialistas, poucas pessoas têm conhecimento, por exemplo, de que se trata do terceiro maior continente, reunindo 54 países independentes. Sua extensão territorial representa 6% da superfície do planeta, uma área onde seria possível acomodar países como Estados Unidos, China, Índia, Japão, Alemanha, França, Espanha, Grã-Bretanha e alguns outros mais.
Desde o ano de 2017, tem se ouvido nos fóruns internacionais que a África será o motor do crescimento do mundo no século XXI. Tal afirmação foi feita pelo presidente francês Emmanuel Macron na ocasião de seu “discurso de Ouagadougou” proferido no dia 28 de novembro de 2017 na Universidade Professor Joseph Ki-Zerbo, em Burkina Faso. Previsão semelhante foi repetida no mesmo dia em Marrakech, Marrocos, por ocasião da segunda edição do Fórum de Investimento China-África.
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A pandemia da covid-19 tem provocado uma crise mundial sem precedentes, com graves consequências sociais. Após 25 anos de crescimento econômico ininterrupto, a África foi atingida pelo impacto da onda da recessão ocorrida a partir de 2020. Em função disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que seria necessário prover até US$ 285 bilhões de financiamento aos países africanos. Sem esse incentivo, os objetivos do Programa de Desenvolvimento Sustentável até 2030 e a Agenda 2063 da União Africana (UA) serão comprometidos.
Para aliviar as economias africanas, em abril deste ano foi autorizada pelos países do G-20 a suspensão do serviço da dívida externa dos países mais pobres e vulneráveis. Por outro lado, a Cúpula sobre o financiamento das economias africanas, em 18 de maio em Paris, decidiu apoiar o projeto de uma aliança para o empreendimento empresarial na África, com um alcance pan-africanista no contexto das micro, pequenas e médias empresas (MPME).
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Entre os países fora do continente africano, estavam presentes nessa Cúpula sobre o financiamento: França, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Arábia Saudita, Bélgica, Canadá, China, Itália, Japão e Espanha. A China e a África do Sul participaram do evento, mas observou-se a ausência dos outros três países membros do Brics (Índia, Rússia e Brasil).
*É economista pela UCL e doutor em antropologia pela USP