Marcos EspínolaDivulgação

Com a covid-19 tudo mudou. De 2020 para cá, os nervos de toda a sociedade ficaram a flora da pele. Medo de contaminação, solidão, da morte. Foram muitos os sentimentos diante de um noticiário diário que contabiliza o número crescente de óbitos, sofrimento de famílias inteiras, uma crise sanitária e de Saúde sem precedentes no último século. Um clima realmente desfavorável para o psicológico de todos nós.

No entanto, quando se pensa que nada pode piorar, de forma absurda e inexplicável, um cidadão agride uma ciclista numa das maiores aberrações já vistas nos últimos tempos. Mais do que um abuso, a atitude foi horrenda, criminosa e merece todos os rigores punitivos.

A misoginia tem sido muito discutida nos últimos tempos. E espera-se que avance cada vez mais, pois gestos inaceitáveis como este devem ser rigorosamente punidos e rechaçados pela sociedade. Não se trata de um abuso sexual, com o gesto de passar a mão nas nádegas da moça, mas a tamanha falta de respeito com a mulher, uma aversão histórica e que passa a ser o ponto chave nessa história.

Onde estamos e aonde queremos chegar, vendo, em pleno século 21, um homem agir assim, com desprezo a uma mulher indefesa que pedalava sem sequer imaginar que alguém seria capaz de um disparate desse. Uma agressão que poderia ter tido consequências drásticas, como a morte da ciclista que caiu, tendo, graças a Deus, escoriações sem nenhuma lesão grave, considerando o físico, pois o psicológico foi gravemente violado.

A violência doméstica contra mulher está atingindo números absurdos e ganhando as ruas. Não são poucos os flagrantes por câmeras de residências e comércios, de homens socando namoradas ou cônjuges sem a menor piedade. Definitivamente, não é abuso. É um vício de tratar a mulher como inferior. Um desrespeito gratuito. Agressão covarde, confiança na impunidade.

Não...não é assédio. Esse cidadão cometeu o crime de importunação sexual e lesão corporal que, repito, poderia ter culminado numa tragédia muito maior. Para muitos, infelizmente, o tema ainda é discutível, pois num estado democrático de direito, todos têm o direito a defesa, porém, como cidadão fica difícil enxergar qualquer razoabilidade numa atitude lamentável como essa, cuja figura feminina, mais uma vez, foi um alvo fácil, indefeso e vítima de uma violência injustificável.

Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública