Pedro Paulo Carvalho é secretário municipal de Fazenda e Planejamento do Rio divulgação

Nas últimas semanas, aplicativos de transporte de passageiros, como Uber e 99, voltaram a ser protagonistas de más notícias. Avessas à regulamentação, as gigantes da tecnologia precarizam as relações de trabalho, provocam danos ambientais e apelam para um modelo de capitalismo selvagem pelo lucro a qualquer custo. Ao que tudo indica, as plataformas do futuro se utilizam de práticas para lá de ultrapassadas - e não conseguem mais esconder isso.
O negócio já vem demonstrando que não é vantajoso nem mesmo para o consumidor. Uma análise da empresa de dados YipitData mostrou que as tarifas médias cobradas por quilômetro nos Estados Unidos cresceram 25% no terceiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período de 2019. O aumento das taxas ocorre em função da escassez de motoristas.
Essa realidade não acontece só lá fora. Aqui no Rio de Janeiro, o Procon Carioca chegou a notificar a Uber e a 99 para que dessem alguma explicação para os frequentes cancelamentos de corridas que andam deixando passageiros a pé. O órgão, vinculado à Prefeitura do Rio, identificou um aumento expressivo nas reclamações de usuários. Até outubro, a Uber somava 773 queixas, já ultrapassando as 770 registradas nos 12 meses de 2020 e muito acima das 593 de 2019. Já a 99 contabilizada 225, contra apenas uma registrada em 2020 e 85 em 2019.
Sufocados pelo aumento no preço dos combustíveis e sem um reajuste decente por parte das operadoras, os motoristas passaram a ter que escolher corridas. A piora no serviço tem relação direta com a precarização do trabalho. Os condutores se submetem a jornadas exaustivas, sem descanso semanal remunerado ou mesmo aposentadoria. Trata-se de uma relação de neoescravidão em que motoristas praticamente pagam para trabalhar enquanto a margem da operadora segue intocada. Muitos desistem.
No último trimestre, por exemplo, o aumento no preço dos combustíveis forçou 15% dos motoristas que trabalham com carro alugado a devolverem os veículos, segundo dados da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla). “Seja seu próprio chefe” é pura propaganda.
Não bastasse a neoescravidão, as operadoras ainda são responsáveis por danos ao meio ambiente e aumento de infrações no trânsito. Uma pesquisa da Universidade Carnegie Mellon, da Pensilvânia, mostrou que usar esse transporte custa para a sociedade e para o planeta 35 centavos de dólar a mais do que ter carro particular. Isso acontece principalmente em função do tempo que os veículos de apps ficam circulando sem passageiros.
Essas corridas vazias aumentam em 20% os custos relacionados ao consumo de combustível e emissões de gases de efeito estufa e em 60% os ligados a congestionamentos, acidentes e poluição sonora. Quando
comparados a transportes públicos, esses custos para a sociedade triplicam.
Um levantamento conduzido pela Prefeitura do Rio com os 90 mil carros da Uber em circulação na cidade revelou, também, a falta de cuidado com a segurança. A chance de um passageiro vivenciar uma infração dentro de um veículo da operadora é o dobro do que em táxis, 50% maior que em ônibus e 20% mais alta que em vans. Os veículos da empresa também cometem cinco vezes mais infrações por transitar em alta velocidade.
Mesmo diante de tudo isso, essas operadoras mostram os dentes ao sinal de qualquer tipo de regulamentação ou controle. Se escondem nas brechas da lei para seguirem à margem da legalidade,
concentrando lucro, mas dividindo o prejuízo.
Pedro Paulo Carvalho Teixeira é Secretário Municipal de Fazenda e Planejamento do Rio e Deputado Federal licenciado