Professor doutor em História Comparada, pesquisador e escritor, Ivanir dos SantosReprodução/Instagram

Terminarmos o ano de 2021 e voltamos os nossos olhos para o passado rumo a um futuro que de uma certa forma ainda se apresenta incerto diante dos resquícios e os rastros deixados pela pandemia da Covid-19. Sem sombras de dúvidas, o ano de 2021 não foi um ano fácil para ninguém e nem muito menos para as os parentes e amigos das mais de 600 mil vítimas da pandemia. E mesmo que o “negacionismo” tente mostrar o contrário é sempre bom lembrar que nós ainda estamos em pandemia. Como também é bom lembrar dos descasos com as pessoas pobres e em situações de vulnerabilidade, que cresce a cada dia e os crimes de racismo e intolerância religiosa ainda desafiam as nossas propostas e os nossos projetos voltados para a promoção de uma sociedade mais justa, antirracista e mais tolerante.
Cá do meu canto, me pego refletindo sobre os desafios que ainda fazem parte das relações sociais cotidianas que, de uma certa forma, ainda impedem a construção de uma sociedade mais tolerante e antirracista. O meu desejo em propor tal abordagem está diretamente conectado aos desafios que, possivelmente, vamos enfrentar em 2022, dado que será um ano de eleições! A sociedade brasileira sempre colocou a ‘questão negra’ e das religiões de matrizes africanas como um problema de saúde e segurança. A primeira saída após a abolição da escravidão - [1] "A escravização dos negros e negras no Brasil ainda é uma das maiores chagas da nossa sociedade. Os resquícios deixados ainda perpetuam sobre as tramas das construções históricas do país e proporcional uma das piores formas de preconceito racial, o racismo velado, silencioso que se esconde sobre as práticas sociais, políticas e econômicas do país", em 13 de maio de 1888, foi a tentativa de embranquecer a sociedade através da política de branqueamento social, pois acreditava que o negro era a degeneração social e, quanto mais individue brancos a sociedade tivesse ou produzisse menos degenerada seria a sociedade brasileira. Assim, a imigração branca européia foi um dos subterfúgios para clarear a sociedade brasileira de forma direta. E a limpeza social ou higienização, aqui identificada como extermínio, desaparecimento ou encarceramento de pessoas negras foi encarada como uma maneira indireta de construir uma identidade branca brasileira e garantir a sua manutenção. Tanto o encarceramento como o extermínio ainda circundam a vida de boa parte da população negra no Brasil. Pessoas essas que tiveram suas vidas ceifadas por um disparo de arma de fogo, do estado ou por imprudência do estado, ou caíram nos esquecimento históricos e nunca mais tiveram seus corpos registrados como cidadãos diante de uma urna eleitoral.
E por falar em urna eleitoral, em 2021 já assistimos uma corrida desenfreada rumo aos palanques políticos. Corridas e corredores que em nenhum momento voltaram os seus olhos e suas ações para as nossas lutas coletivas. Precisamos ter cautela! Obviamente que as pautas das minorias representativas serão, mais uma vez, o guisa e direcionamento para as eleições de 2022. Por isso, não podemos deixar nas mãos dos "corredores" as nossas pautas sociais, políticas e econômicas.
Profº. Drº. Babalawô Ivanir dos Santos (PPGHC/UFRJ e CEAP)