Isabella Albuquerque é infectologista do Hospital São Vicente de Paulo (RJ). Divulgação

Caminhamos para completar dois anos de pandemia e para mais de 300 milhões de casos de covid-19 no mundo. Ultrapassamos a marca de 5 milhões de mortes em todo planeta. Felizmente, com o avanço do alcance da vacinação, estamos assistindo a uma grande redução da contaminação e, em particular, de casos graves. Mas se por um lado temos diversas unidades de Saúde comemorando o fechamento de leitos dedicados à covid-19, por outro lado, temos, entre os sobreviventes, uma enorme massa de pessoas que saíram da fase aguda da doença, porém que ainda não alcançaram a plena recuperação.
Dados observacionais sugerem que esses pacientes podem experimentar uma vasta gama de sinais e de sintomas, denominados como “covid prolongada”, “síndrome pós-covid” ou “sequelas pós-agudas da infecção pelo SARS-CoV-2”.
Os sintomas mais frequentes nessa fase, reportados nas séries de casos já publicadas, costumam se manifestar por períodos que variam de dois a três meses ou mais. Entre eles, está o surgimento de fadiga, presente em 15 a 90% dos casos, inclusive em situações de infecção assintomática. Outros sinais são a dispneia ou falta de ar, que atinge de 10 a 70% dos pacientes; desconforto torácico, que afeta de 12 a 45%; tosse, que acomete de 17 a 30% dos pacientes pós-covid e a perda de olfato, que tem menor alcance, de 10 a 13% dos pacientes, e cuja duração raramente ultrapassa um mês.
A chamada síndrome pós-covid também pode provocar desordens psicológicas e neurocognitivas, em cerca de 20% dos casos, sendo as mais frequentes a síndrome do estresse pós-traumático; déficit de memória; déficit de concentração e ansiedade ou depressão.
Com base nas informações de que dispomos até o momento, é possível afirmar que tais sinais e sintomas tendem a melhorar mais rapidamente nos casos de covid leve e tendem a persistir por mais tempo nos casos de infecção grave, caso dos que necessitam de hospitalização, dos pacientes mais idosos e portadores de comorbidades, assim como dos que experimentam complicações da fase aguda, como infecções secundárias ou tromboembolismos.
Ainda não conhecemos o impacto das vacinas sobre o desenvolvimento dessas manifestações. Uma vez que o paciente se infecte e desenvolva a síndrome pós-Covid, é muito importante que a ele seja garantido o acesso à continuidade do cuidado o mais breve possível, no sentido da plena recuperação e da retomada de sua vida, com qualidade. Embora os números de infectados venha caindo, até que uma grande parcela da população mundial esteja imunizada não nos veremos livres da pandemia.
Ainda não é possível projetar a dimensão dos impactos dos inúmeros casos de pacientes ainda em recuperação na sociedade. No entanto, podemos afirmar que os sintomas pós-covid irão exigir mais gastos na área da Saúde e, em alguns casos, impedir a volta plena às atividades laborais. É possível que mesmo com o fim da pandemia ainda tenhamos que conviver com suas consequências na saúde e na economia por algum tempo. Por isso, é bom reforçar: a melhor estratégia continua sendo a prevenção da infecção, com vacina, uso de máscaras, higiene e distanciamento.
Isabella Albuquerque é infectologista do Hospital São Vicente de Paulo (RJ).