Julio FurtadoDivulgação

Confesso que não entendi direito o que seria esse tal de novo normal a que todo mundo se refere na pandemia. A princípio, pensei numa situação acabada a qual teremos que nos adaptar em função das lições aprendidas. Algo do tipo continuar usando para sempre álcool em gel e máscara em lugares fechados com aglomeração, parar de destruir a natureza em função dos efeitos nefastos, incluindo o risco de novas pandemias. Depois, entendi que estava sendo otimista ou ingênuo demais em meu conceito.
Construí, a seguir, a ideia de que o novo normal seria um mundo para sempre pandêmico no qual viveríamos eternamente afastados e usando máscaras. Essa crença durou até que conversei com uma pesquisadora que me explicou que uma pandemia somente tem fim quando se conhece o suficiente o microrganismo que a provoca ao ponto de controlá-lo, ponto do qual parece que ainda estamos longe, em função do aparecimento de novas variantes.
A partir daí, o novo normal passou a ser, na minha cabeça, o tempo que teremos que continuar tomando todos os cuidados até que o tal vírus seja conhecido e dominado. Esse conceito me preocupa porque isso depende da colaboração da maioria esmagadora da humanidade o que, a cada dia mais, me parece inviável.
Será que já estamos no novo normal e não nos demos conta?
Sou professor de Ensino Básico e formador de professores. Enquanto professor, já me adaptei a pedir que ajeitem as máscaras e se afastem diante de uma súbita aglomeração momentânea. Enquanto palestrante
já me acostumei a me afastar da plateia ao tirar a máscara para falar melhor ao microfone ou a usar máscaras mais seguras durante os voos em deslocamentos.
Será que isso já é o novo normal? Atualmente penso que o novo normal é exatamente isso: viver na expectativa de como será viver num mundo pós pandemia, enquanto aguardamos que todos se convençam
que precisam colaborar para que esse mundo se estabeleça.
Acho que o grande desafio de educar nesse período é exatamente ser ativo no sentido de ampliar essa tão necessária consciência colaborativa. Educar para que os futuros adultos equilibrem melhor suas necessidades individuais com as necessidades coletivas e compreendam que as demandas coletivas interferem muito mais nas demandas individuais do que o contrário. Educar para a compreensão de que o todo é muito maior do que a soma das partes.
Júlio Furtado é professor e escritor