O Projeto Cidade Integrada empolga no papel porque se apresenta como algo pensado tecnicamente, priorizando a inteligência estratégica tão almejada por anos. Mas é preciso ter muita atenção para evitar os efeitos colaterais das UPPs com a debandada da criminalidade para outras regiões do estado.
Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública
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Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública
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Passados 14 anos da implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPPs), em 2008, no morro Dona Marta, o governo do estado acaba de lançar o Projeto Cidade Integrada, cujo objetivo é similar, porém mais abrangente, demonstrando maior atenção em várias frentes sociais e não ficando só na Segurança. A iniciativa desperta vários sentimentos, como a esperança, mas, também, a desconfiança, pois o povo se vê descrente de melhorias efetivas e duradouras.
Após a instalação das UPPs em várias comunidades, com resultados imediatos surpreendentes, na sequência faliu, o que fez com que o povo fosse do céu ao inferno em pouco tempo, vendo a violência e a criminalidade crescer a cada dia. As UPPs não só foram descontinuadas como também, mesmo no seu auge, não alcançaram o que se esperava, justamente pela falta de implementação de outros projetos sociais em paralelo, afinal não se promove Segurança só trocando tiros, mas com Educação, Saúde e, principalmente emprego e geração de renda, minimizando o aliciamento do tráfico junto aos jovens.
Para isso seria interessante fomentar neste projeto incentivos fiscais que ajudem o Rio a resgatar seu potencial econômico e capacidade industrial, atraindo investidores e empresas. Esse é um caminho primordial.
O Projeto Cidade Integrada empolga no papel porque se apresenta como algo pensado tecnicamente, priorizando a inteligência estratégica tão almejada por anos. Incluir os seis eixos: social, infraestrutura, transparência, econômico, diálogo e segurança parece atender não só os anseios, mas a necessidade das comunidades. Mas é preciso ter muita atenção para evitar os efeitos colaterais das UPPs com a debandada da criminalidade para outras regiões do estado.
Outro ponto é que não podemos nos iludir, pois tudo o que foi anunciado demanda um investimento da ordem de R$ 500 milhões de um estado com problemas financeiros e um governo em fim de mandato. Talvez, esse movimento pudesse ser uma virada de chave com medidas legislativas que protegessem iniciativas plausíveis e que vão na direção da retomada da ordem urbana. Como? Blindando-as de decisões políticas os projetos bem estruturados, ou seja, que estes independam dos gestores da vez para que tenham continuidade e sustentabilidade.
É válida a nova tentativa e fica o desejo de que o Projeto Cidade Integrada se torne uma realidade e que não se desintegre em pouco tempo, afinal, os governantes passam, mas o povo fica e com ele a violência que só cresce.
Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública
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