Paulo Ferreira é presidente do VLT Carioca Divulgação

Como colocar trens de quase 50 metros de comprimento e dezenas de toneladas para circular com pedestres e veículos sem impactá-los? Essa era uma das perguntas que fazíamos quando cheguei ao VLT Carioca há pouco mais de sete anos, como gerente de Operações. Com mais de dez anos no setor metroferroviário até então, sabia que aquele momento era diferente.

Hoje, com o VLT circulando desde 2016, dá para dizer que a questão foi respondida. Integrado à cidade, o sistema convive em harmonia com a rotina de um agitado Centro do Rio e, ao contrário do que muitos imaginavam, tornou-se referência de operação sustentável, eficiente e segura em transportes urbanos.

Para isso, foram horas investidas não somente no estudo de Veículos Leves em outros países, mas, principalmente, na formação e capacitação dos profissionais. Condutores foram e até hoje são formados pelo VLT em vários meses de treinamento, que incluem aulas teóricas, simulador e prática em via. Além disso, têm um acompanhamento de performance que inclui auditorias presenciais, de comunicação via rádio e avaliação de caixa preta. E passam por teste de etilômetro diariamente antes de iniciar a jornada de trabalho, assim como todo o time de CCO e manutenção.

Assim, o VLT derrubou tabus. Manteve baixos índices de incidentes e, mesmo com um modelo de pagamento inédito, tem também baixa taxa de evasão. Desempenho compatível e até superior a cidades europeias onde operações similares existem há mais de uma década.

A construção da relação com a população incluiu ainda um extenso período de testes em que o público pôde entender melhor o sistema, inclusive com viagens gratuitas. Campanhas de segurança nas ruas e nas redes alertaram que o “novo bonde” estava chegando e era preciso ficar “De Olho No VLT”.

E ele chegou. À Rio Branco e ao boulevard, em meio aos Jogos Olímpicos e à multidão que tomou conta desses espaços. Chegou à Central do Brasil e à Marechal Floriano. Atualmente conecta ônibus, trens, metrô, barcas e terminal de cruzeiros, além da Rodoviária do Rio e do Santos Dumont.

Com a conexão e confiança do carioca, o VLT se tornou parte das soluções de mobilidade e desenvolvimento de cidade. O fenômeno já aconteceu em outras localidades, como Freiburg, na Alemanha, e Ontario, no Canadá, por exemplo. A valorização de imóveis nessas áreas após a implantação foi significativa, variando de 15% a 25%, segundo Relatório de Mobilidade Sustentável da ANPTrilhos.
E está acontecendo também no Rio, onde cultura e turismo no Centro estão diretamente ligados ao VLT, região que concentra mais de 70 teatros museus e outras atrações em seu trajeto. Assim como as soluções que buscam maior ocupação da região passam pelo entorno das linhas.

Os desafios não são simples. Há uma pandemia ainda em curso, que nos move a priorizar saúde e prevenção. De quem trabalha e circula com a gente. Seguir crescendo e manter a segurança e a qualidade da operação como valores são nossos compromissos.
Dessa forma, queremos demonstrar a importância do investimento em transporte sustentável, para o Rio e para o país. Assim teremos cidades com melhores caminhos para as pessoas, com mobilidade, energia limpa e desenvolvimento social.

Paulo Ferreira é presidente do VLT Carioca