Economista Raul VellosoDivulgação/Inae

Fora do ambiente financeiro, mas especialmente diante das eleições que se avizinham - quando todos ficam mais sensíveis -, é crescente o incômodo com o aumento na taxa de juros Selic (ou seja, no custo do dinheiro) de 7,25 pontos percentuais, ao longo de todo o ano passado, acrescida agora de mais 1,5 pontos percentuais com o anúncio de 2 de fevereiro pelo comitê que a revê periodicamente.

Para quem discute se tal aperto monetário é desejável, a primeira pergunta a ser feita é se existe, no país, suficiente pressão inflacionária, seja ela proveniente do lado da oferta, ou do da demanda, e particularmente desta, que justifique tamanha subida de juros. Paralelamente, como ficam os custos decorrentes de se fazer isso?

A primeira parte da resposta é que existe, sim, uma pressão inflacionária relevante em escala mundial, combinando tanto gargalos de oferta ligados ao arrefecimento da primeira fase da pandemia (que podem ser vistos como temporários), como pressões mais duradouras do lado da demanda agregada. O que se duvida é se, nessas condições, haverá mesmo justificativa teórica suficiente para acreditar que subir juros conterá demanda e depois domará a inflação.

Na falta de uma melhor especificação dos canais de transmissão desse processo do que a que existe hoje, alguns colegas que se dedicam ao assunto, como André Lara Resende, acham que não dá para responder afirmativamente a isso a priori. A reação do investimento privado à subida dos juros tende a ser vista como fraca, e que ela dependeria muito mais das expectativas empresariais do que dos juros em si. Da mesma forma, alguns detectam que é também baixo o impacto contracionista da subida dos juros sobre a demanda de consumo.

Nesses termos, sob a atual política, o Banco Central parece atirar na direção de um alvo móvel difícil de atingir, sujeitando-nos a efeitos complicados que decorrem das crescentes taxas de juros que vêm sendo praticadas, inclusive a sensação de que a situação é até pior do que se imaginava (ou seja, adicionando expectativas ainda mais desfavoráveis do que anteriormente), pois como explicar as fortes subidas da Selic que vêm sendo praticadas?

Para concluir, deve-se falar particularmente na elevação dos altos e inevitáveis custos que incidem sobre o serviço da dívida pública, que, ao fim e ao cabo, é de responsabilidade integral dos contribuintes. Supondo, então, um estoque da dívida pública federal medido em 80% do PIB, ao se aplicar uma Selic dez pontos percentuais acima da que vigorava no início de 2021, chegar-se-á a um custo adicional de 8% do PIB a ser transferido para os seus detentores, algo que representa mais de três vezes a taxa de investimento público que vem sendo executada nos últimos anos, onde persistem carências gigantescas.
E isso seria feito sem qualquer submissão do assunto aos poderes eleitos estabelecidos, onde, em contraste, um gasto com um novo programa de socorro aos afetados pela pandemia teve de ser aprovado no Congresso por meio de uma emenda constitucional.
Raul Velloso é consultor econômico