O deputado federal David Miranda Divulgação/Câmara

O Jacarezinho é uma favela em que população busca ter voz e, para isso, há um grande número de moradores atuando em associações e entidades políticas, sociais e culturais. A comunidade surgiu de um quilombo, de organização de negros fugitivos do massacre da escravidão. Por isso mesmo, houve grande indignação com a forma desastrosa como foi instalada a ocupação policial, que depois soube-se que era uma ocupação social, comandada pelo governador Cláudio Castro.

Na noite de 18 de janeiro passado, comecei a receber denúncias de moradores apavorados com os blindados e policiais fortemente armados nas cercanias daquela favela onde nasci e fui criado. Obviamente, ali ninguém dormiu, inclusive minha família e amigos. Ao amanhecer do dia seguinte, aconteceu a entrada de 1.200 policiais. A comunidade viu as ruas serem ocupadas sem saber sequer qual era a garantia de seus direitos naquela invasão de agentes da polícia.

Era o início do programa do governador Cláudio Castro intitulado Cidade Integrada. Os relatos de moradores sobre invasão de casas, ataques, furtos, tiroteios e até torturas e mortes por parte de policiais não cessaram. Para tentar acompanhar mais de perto, as minhas idas e de meus assessores ao local tornaram-se frequentes.

Vinte dias depois, Yago de Souza, um jovem negro de 21 anos, foi preso pela “ocupação” ao ter saído de uma mercearia em que fora comprar pão. Há ainda outro agravante: a região é a mesma onde, em maio do ano passado, policiais executaram 29 pessoas na operação mais letal da história do Rio de Janeiro, deixando a comunidade em estado de trauma.

Após o massacre, surgiu ali um laboratório de dados, o LabJaca, criado por jovens do Jacarezinho, dedicado a análises e estudos dos territórios populares. Para se ter ideia, o LabJaca avaliou, por exemplo, que o preço mais baixo de um fuzil da polícia de Cláudio Castro poderia sustentar um aluno da rede pública por um ano, incluindo todas as necessidades escolares.

No clássico Os Miseráveis, Victor Hugo apresenta como principal personagem um homem pobre condenado por ter roubado pão. Percebe-se, infelizmente, que o Rio de Janeiro não mudou muito em relação ao século 19. Já houve tempo em que um governador chamado Leonel Brizola fortalecia a atuação da Segurança Pública aliada aos Direitos Humanos.

Nos últimos anos, o Rio de Janeiro teve, em curto período de tempo, dois governantes: um que estimulava a polícia a “mirar na cabecinha, e, dele, a população fluminense herdou Cláudio Castro, um administrador cujo programa social no Jacarezinho ainda não disse a que veio neste ano eleitoral.
Precisamos estar atentos e fortes. Não temos o direito de esquecer que a favela do Jacarezinho continua ocupada por policiais. A nossa vigilância tem que se impor o tempo todo.

O que se espera são incentivos e políticas públicas dos governantes, contemplando projetos comunitários já existentes e a criatividade e talento de muitos que ali vivem. Violência e política eleitoreira, não.

David Miranda é deputado federal (PDT/RJ)