Marcos Espíndola - advogado criminalistaDivulgação

Passaram-se quatro anos e a pergunta “Quem mandou matar Marielle? continua sem resposta. Mas o porquê dessa demora? A burocracia brasileira ou a incompetência dos órgãos responsáveis? Seja qual for a resposta é isso que gera a impunidade, pois o tempo apaga qualquer memória e as evidências do inquérito e quanto mais tempo demora para responsabilizar os mandantes, mais provas se perdem. A expectativa de solução do caso dá passagem para a realidade morosa que tende a fazê-lo cair no esquecimento.

Nesses anos, o país vem mantendo uma média de 40 a 50 mil homicídios por ano, porém, segundo o relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 90% ficam impunes e sem solução. Marielle Franco e Anderson Gomes passaram a fazer parte dessa estatística. Um exemplo da diferença entre expectativa e realidade, pois, o correto é que a investigação de qualquer crime chegue aos autores e mandantes para o devido julgamento e punição.

Isso demonstra a necessidade cada vez maior de mudanças na segurança pública. A Polícia Judiciária, representada pela Polícia Civil, a primeira a atuar em qualquer caso precisa de investimentos em recursos humano, tecnologia e equipamento. Além disso, precisa de independência.

Um delegado por exemplo, que é quem dá o primeiro passo numa investigação necessita de melhores condições de trabalho, a começar pela proteção do seu cargo, no qual deveria ter uma espécie de mandato com, pelo menos, quatro anos de duração, tendo garantias e até proteção para comandar a investigação do início ao fim. Só no caso Marielle já passaram cinco delegados e pouco se progrediu. E por que isso? Por que delegados deixam o caso, inclusive alguns alegando interferência na investigação e nada acontece? Eis o mistério.

O fato é que hoje vivemos uma barbárie. São muitos os assassinatos, uma matança promovida por grupos que agem embaixo do nariz do Estado, agindo de forma explícita, muitas vezes na luz do dia e não podemos aceitar a banalização da vida.

No caso Marielle, que nesta semana completou quatro anos sem solução, independentemente da questão política, trata-se de duas vidas humanas perdidas e isso não pode ficar impune. Estamos acumulando assassinatos sem desfechos, dando a sensação de que a impunidade é soberana. Uma realidade que deve dar passagem para a expectativa de uma sociedade civilizada, organizada, com ordem e leis que efetivamente funcionem.
Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública