opinião 11 abril 2022.

Independente da paternidade da frase de que o Brasil não é um país sério, atribuída nos anos 1960 ao presidente francês Charles De Gaulle, o fato é que temos protagonizado fatos absolutamente coerentes com a alegada falta de seriedade, em todas as camadas da população, opções políticas e ideológicas. O Brasil briga com os fatos ou os ignora.

A questão da Petrobras é representativa. Ela foi saqueada, usada e abusada politicamente. Tornou-se a empresa com maior endividamento do mundo, foi condenada a indenizar acionistas norte-americanos por má gestão e ainda se procura negar fatos amplamente divulgados. A devolução de ganhos ilegais soma mais de R$ 1 bilhão, sendo que cerca de R$ 200 milhões vindos de um simples gerente. A empresa chegou a dar prejuízo.
E agora, o Judiciário anula condenações dos anos PT, políticos negam a corrupção comandada pelo mais alto escalão da República. E nem se fala nos processos, nem no possível eventual enriquecimento ilícito de dirigentes, ao que parece, vivendo as alegrias daqueles ganhos. E o presidente da Republica troca presidentes respeitados, tenta influir na política de preços de uma sociedade de economia mista, com milhares de pequenos acionistas espalhados pelo mundo. Parece brincadeira e por isso ninguém quer aceitar a missão. Os bem intencionados é claro.

Outra evidência da irresponsabilidade coletiva foi a CPI da Pandemia, um espetáculo televisivo, que focou de passagem na questão da demora na compra de vacinas e na alteração da lei que impossibilitava as compras, detectadas em agosto de 19 e somente corrigida em fevereiro de 20. Também não houve o cuidado elementar de se editar um vídeo reunindo as dezenas de manifestações negacionistas de altas autoridades, de brincadeiras de mau gosto, de comentar notícias negativas e não comprovadas. Mesmo com a má vontade das cúpulas, o SUS, ao obter as vacinas, deu show de competência e dedicação.
Mas a CPI não quis ver ninguém penalizado, e a Polícia Federal e o MP Federal não se preocuparam em prender governadores, prefeitos, secretários de Saúde estaduais e municipais comprovadamente autores de compras superfaturadas, não entregues ou equivocadas, em bilhões de reais. Uma troca de cumplicidades que choca pela falta de cobrança nas mídias e dos setores competentes dos Três Poderes. E o STF quer apurar irregularidades em compra que não foi feita, não teve pagamento por mera exploração política.
Os desacertos nas operações externas do BNDES não têm responsáveis, o calote de que o país é vítima não é devidamente cobrado, inclusive nos tribunais. E os acusados, governos Lula e Dilma, silenciam sobre o assunto e não são cobrados pela mídia, pelos tribunais, pelos políticos. O governo critica mas não age, não apura responsabilidades.

A austeridade no cumprimento do orçamento foi esquecida em nome de "socorrer os excluídos", com a mobilização para o aumento do teto de gastos, empenho que faltou para as reformas que gerariam empregos, renda e impostos. Num passe de mágica, o governo distribui o que se chama de "bondades”, na eliminação de impostos, de subsídios, na queda de tarifas, o que seria digno de aplausos, se fosse em paralelo a uma retomada de crescimento pela simplificação tributária, a acertos que faltam nas leis trabalhistas e à reforma dos códigos, a começar pelo penal.
Mas nada foi feito que não com o objetivo menor da busca do voto numa desnecessária antecipação do processo eleitoral. Comportamento de governo, oposição e sociedade em geral, numa demonstração de alienação total da realidade que nos faz perder terreno no conjunto das nações. É bom lembrar de que o Brasil, em 1985, no final do governo Figueiredo, era a oitava Economia do mundo e, hoje, somos a décima terceira.

Nos vexames internacionais, para constrangimento de nossos diplomatas e empresários que atuam em todo mundo, a posição brasileira na invasão da Ucrânia pela Rússia não foi observada. A oposição por estar, no fundo, em linha com o presidente e o governo, pelos diplomatas, militares e lideranças políticas na omissão pusilanime em alertar o presidente para o erro de deixar perceber a solidariedade que, antes da invasão,
já havia prestado à Rússia.

Realmente é de se estranhar um país destas dimensões, em todos os sentidos, ter um governo que não governa, uma oposição que briga com a realidade e uma sociedade que se omite e não tem memória. Até quando? E qual será o tamanho da conta? A solução do equilíbrio e do bom senso esbarrando nas vaidades e ambições menores. Que pena !
Aristóteles Drummond é jornalista