Edson Santos, ex-ministro e ex-deputado federalDivulgação

Num artigo publicado em 1988, ano do centenário da Abolição da Escravidão, Afonso Arinos de Melo Franco, fez a seguinte afirmação: as desigualdades raciais serão o grande desafio da sociedade brasileira no século XXI.
Esta afirmação veio de quem desde meados do século passado acompanhava a evolução da sociedade brasileira e percebia a emergência dos conflitos sociais existentes no Brasil, devido à insensibilidade do Estado brasileiro frente à dramática situação os negros brasileiros.
De lá pra cá, a partir da Constituinte, tivemos grandes avanços em nosso arcabouço jurídico: reconhecimento das comunidades quilombolas, Lei 10.639/03, cotas na Educação e serviço público, regulação do serviço doméstico e Estatuto da Igualdade Racial.
Lembro quando convidado para assumir a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, ouvi do então presidente Lula a seguinte frase: “Edson, hoje estamos no governo, assumindo as reivindicações do movimento negro, mas amanhã pode entrar um maluco que tente destruir todas as conquistas do povo negro no nosso governo, por isso é fundamental votar o Estatuto da Igualdade Racial de autoria do senador Paulo Paim”.
Hoje, diante da postura racista do governo Bolsonaro, enxergo a frase de Lula como premonitória. Faço essa digressão para me posicionar frente a polêmica da fotografia de lideranças do PT e do PSB no anúncio da chapa Lula /Alckmin para a disputa presidencial deste ano onde não aparece nenhum negro, sendo por isso, objeto de muitas críticas.
Penso que a fotografia é a demonstração cabal da falta de negros na composição das direções partidárias no Brasil, acho que a esquerda ainda não entendeu a urgência de acolher negros (as) em seus fóruns diretivos tornando plenamente justificável as críticas dos negros conscientes.
Mas diante das ameaças do ponto de vista da nossa soberania, principalmente da democracia que pairam sobre a nação brasileira com a pretendida reeleição de Bolsonaro, se faz urgente juntar o mais amplo conjunto de forças para derrotar Bolsonaro e reconstruir o Brasil.
No que pese a legitimidade das candidaturas de oposição apresentadas até o momento, considero que Lula é a que reúne mais condições de cumprir esta função, pois é líder nas pesquisas e tem feito grande esforço para unir forças mais díspares em torno de um projeto de reconstrução nacional, é óbvio que as críticas serão vistas e absorvidas por Lula que comprovadamente tem compromisso com a luta antiracista.
Edson Santos é ex-ministro da Igualdade Racial e ex-deputado Federal