Ivanir dos Santos - Opinião O Diadivulgação

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Ivanir dos Santos Babalawô, professor e orientador no PPGHC/UFRJ
Após quase dois anos sem Carnaval, por conta de todos os processos e medidas tomadas como contenção contra os avanços da contaminação da covid-19, a passarela do samba mais uma vez nos abrilhantou com enredos potentes e potencializadores de grandes reflexões. Não muito longe, no último Carnaval na Marquês da Sapucaí, os sambas enredos das escolas de samba trouxeram, com grande maestria, por sinal, reflexões pontuais que mostraram os marginalizados sociais, o preconceito, a importância das religiões de matrizes africanas como veículo de construção das nossas identidades nacionais.

Temas que cada vez mais fortalecem as nossas resistências cotidianas e alimentando as nossas lutas coletivas, afinal, esse não é o papel da arte? Nos levar a compreensões que até então poderiam passar despercebidos dentro das nossas relações do dia a dia?! Ora, e é justamente esse o papel que as escolas de samba, principalmente através dos seus enredos, vem fazendo a cada ano!
Precisamos aqui pontuar que ainda estamos atravessando um momento extremamente difícil com o grande crescimento dos casos de intolerância religiosa no Brasil, principalmente contra os adeptos das religiões de matrizes africanas. Segundo os dados estatísticos do Instituto de Segurança Pública (ISP), no ano de 2021 o Estado do Rio registrou aumento de 11,7% em relação aos casos gerais de intolerância religiosa no ano de 2020.
No ano passado, foram 1.564 ocorrências, contra 1.400 nos 12 meses anteriores. Esses dados revelam não só o crescimento da violência e da intolerância religiosa, como também nos deixam pistas para os descasos das autoridades públicas e a insuficiência de políticas públicas que possam, de uma certa forma, promover a tolerância o respeito e a equidade religiosa, por isso é de suma importância enfatizarmos que o Estado é laico!
Destarte, os sambas enredos cumprem com excelência ao levar para a avenida do samba questionamentos diretos às autoridades públicas sobre a falta de promoção da liberdade religiosa, críticas sobre a intolerância e a valorização das culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas. A arte do Carnaval, idealizada e construída pela “gente comum” brasileira, que entraram na avenida pedindo paz, tolerância, respeito e equidade, expressando um desejo coletivo.
O Carnaval de 2022 deu uma grande lição para todos, com sabedoria, beleza e audácia mostrou que ainda temos muito que aprender. Axé!
Ivanir dos Santos é babalawô, professor e orientador no PPGHC/UFRJ