Nos dias 8 e 9 de maio de 1945, há exatos 77 anos, o “Oberkommando” da ex-poderosa Wehrmacht de Adolf Hitler assinava a rendição da Alemanha frente à União Soviética, hoje Federação Russa, e aos Aliados Grã-Bretanha, Estados Unidos e França. Terminava assim o mais brutal conflito do século 20 e da História. Com mais de 85 milhões de vítimas, 3% da então população mundial, dos quais seis milhões de judeus mortos no Holocausto. Somente a Rússia, principal frente de resistência ao nazismo, perdeu 20 milhões de pessoas entre civis e militares.
Contudo a Paz não veio em 1945: o mundo se dividiu com a Guerra Fria e a chamada “Condição M.A.D. – a Mútua Destruição Assegurada” assombrou toda uma geração com suas sucessivas crises, como em Suez, Cuba e Berlim. Com o fim da União Soviética, do seu braço armado, o Pacto de Varsóvia, depois da Derrubada do Muro de Berlim, em 1989, ressurgiu a esperança de Paz. Contudo a Política de “Roll Back” da OTAN/NATO e a contínua política armamentista de ambos os lados, o medo da ascensão de uma nova grande potência, a China Popular, manteve e acirrou um novo clima de guerra.
Alguns falaram em “Nova Guerra Fria”. A História não se repete. Se reinventa. Novas guerras, novas ameaças. Nem mesmo o horror de mais seis milhões de mortos de covid-19 no mundo, e a certeza de novas pandemias, faz com que as potências se unissem num Projeto de Paz. A guerra retornou e o mundo voltou a se dividir. Intelectuais, artistas, organizações mundiais correram para defender e apoiar um dos “lados” na guerra. Uma guerra travada na Europa, entre nações brancas, que mutuamente se chamam de fascistas.
E no entanto, hoje, há guerra, desde 2020, na Etiópia, uma guerra sem números, posto que não interessa contar; no Iêmen – com 231 mil mortes; em Mianmar, desde 2021, com dez mil mortes; no Haiti, novamente há fome; na Síria, com 380 mil mortes; na África – Mali, Níger, Somália, Burkina Faso, Congo e Moçambique milhares de pessoas são vítimas da guerra civil, do terrorismo e da fome, mas não são assuntos da mídia; claro, o Afeganistão e a Líbia, desestabilizados, invadidos, abandonados, onde mulheres e crianças são violados e escravizados.
Porém, a Ucrânia virou o palco central de todas as organizações humanitárias e dos intelectuais horrorizados com a guerra. Talvez porque os ucranianos se pareçam bem mais com eles/nós mesmos. Ou porque as agências mediáticas estão centradas no Ocidente e voltadas em transformar este conflito no único conflito relevante. No entanto, cabe deixar claro e transparente: para a Paz não há “lado”!
Precisamos da Paz já, imediata, agora. Só com a paz podemos cuidar dos feridos, enterrar os mortos, buscar os culpados pelos massacres. É criminoso afirmar que não haverá negociações enquanto não houver identificação dos culpados. É Nuremberg antes de Stalingrado. Paz agora!
Discursar uma, duas, dez, 20 vezes por armas e nenhuma vez pela Paz é fomentar a guerra. A paz não conhece ‘lado”. Os parlamentos do mundo que ouvem e aplaudem os pedidos de armas negam o seu próprio nome: parlamento/parlar/negociar/ discutir/Paz.
Paz agora, qualquer que seja o “lado” é responsável pelo imediato cessar do troar dos canhões, do silvado dos misseis. Paz, imediata!
Francisco Carlos Teixeira da Silva é historiador/UFRJ/UFJF
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