Deputado Dr. Luizinho foi aconselhado a não aceitar ser ministro de Bolsonaro.Divulgação/Câmara

Aproveito a efeméride do dia 31 de maio, que foi o Dia Mundial Sem Tabaco, para alertar sobre a segurança do uso dos cigarros eletrônicos. Embora seja proibido no Brasil desde 2009 pela Resolução de Diretoria Colegiada 46, da Anvisa, o uso dos vapes, como também são chamados esses dispositivos, está se disseminando rapidamente, sobretudo entre os mais jovens.

Nas redes sociais, os e-cigs ou pods, outros nomes pelos quais são conhecidos, têm sido cada vez mais difundidos. É comum ver jovens compartilhando suas experiências de uso e mostrando formas caseiras de montar o próprio produto no TikTok. Apesar de proibidos, são vendidos livremente em tabacarias e bancas de jornais de todo o Brasil.
Sabemos que o lobby da indústria tabagista, que mata, segundo a ONU, mais de oito milhões de pessoas por ano (mais até que a indústria bélica) é muito forte. Isso talvez explique por que, em 2019, a Anvisa iniciou um processo regulatório que pode levar à liberação dos cigarros eletrônicos.

Contra essa possibilidade, 46 entidades médicas se posicionaram contrárias a essa possibilidade. Em documento enviado em 9 de maio à Anvisa, elas escreveram: “Os cigarros eletrônicos não podem reverter décadas de esforços da política de controle do tabaco no Brasil”.

Não se trata de liberdade de escolha, como defendem os entusiastas da liberação. Apesar de as pessoas terem, sim, o direito de se matar, é preciso lembrar que o tabaco gera imenso prejuízo aos cofres públicos. Ele causa não apenas o câncer, seu mais conhecido efeito colateral, mas também amplia os fatores de risco das comorbidades, como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos, doenças pulmonares e aumento da vulnerabilidade a infecções virais e bacterianas. E quem paga, no fim das contas, essa fatura, é o SUS, financiado por todos os brasileiros – fumantes ou não.

Graças aos esforços implementados a partir dos anos 1990, sobretudo sob a gestão do ministro José Serra, que enfrentou o lobby dos cigarros e da indústria farmacêutica (ao fazer a ótima Lei dos Genéricos), o panorama do tabagismo no Brasil mudou. Hoje, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, 10% da população brasileira acima de 18 anos fumam. Há 20 anos, era o dobro.
Inacreditável pensar que, no passado recente, as pessoas eram autorizadas a fumar até na parte traseira dos aviões, ambientes hermeticamente fechados, restaurantes e nos locais de trabalho. Muita gente que nunca fumou sofreu doenças causadas pelo tabaco por ser “fumante passiva". Um crime, perpetuado por gerações e gerações.

Entretanto, ainda são 20 milhões os brasileiros viciados nesse mal e os vapes estão aumentando esse contingente. Segundo o Ibope Inteligência, em apenas um ano, os usuários brasileiros saltaram de 0,3% da população para 0,6%. Ou seja, já são cerca de 600 mil fazendo uso desse dispositivo assassino. Por isso, é hora de mudar o velho slogan da luta antitabagista, que ganha agora um novo verbo. Além de apagar, é hora também de desligar essa ideia, enquanto é tempo.
Dr. Luizinho é médico e deputado federal (PP-RJ)