Arte Coluna opinião 18 julho 2022 Paulo Márcio

Os dois principais candidatos ao próximo mandato presidencial vivem um momento raro. São frutos de novos tempos em que o esgotamento de um modelo liberal democrático baseado no voto popular direto fez cair, em todo o mundo, a qualidade dos políticos . O crescimento demográfico e das economias não foi acompanhado pelo nível de educação e cultura do eleitorado e muito menos dos políticos.

Passando a uma abordagem objetiva e não adjetiva, analisando fatos e não opiniões, os dois candidatos devem ser encarados com racionalismo e não passionalismo, mesmo diante da imensa rejeição que ambos registram em pelo menos um terço da população.

Lula foi presidente por dois mandatos, pegando bons ventos da economia mundial e teve a infelicidade de fazer sua sucessão com a desastrada Dilma Rousseff. No mais, o país tomou conhecimento de casos de corrupção de grandes dimensões, com uma verdadeira organização criminosa, fartamente comprovados, inclusive por confissões, delações e devolução de bilhões de reais. Mas processos anulados e
relegados ao esquecimento para nova avaliação do Judiciário decepcionam a sociedade. Agora se procura iludir o eleitorado confundindo anulação de sentença com engavetamento ou absolvição.

Coerente com sua trajetória e afinado com seus correligionários de sempre, Lula parece que não evoluiu para o mundo que consagrou teses positivas acima de dogmas ideológicos. Continua a combater privatizações, a defender direitos trabalhistas e não legislação que estimule o emprego, ameaça anular contratos ou intervir nas tarifas públicas em geral. Foi claro em criticar o teto de gastos. Não escondeu sua satisfação com os recentes resultados eleitorais no Chile, Peru e Colômbia. Tem o mérito de não
estar enganando ninguém.

Já o presidente Bolsonaro é um caso curioso de arrogância, insegurança e despreparo. Realiza um bom governo, entretanto, com um invejável rol de feitos. Os casos mais explorados de corrupção pela oposição ou não aconteceram ou envolveram números irrelevantes e por autores mais irrelevantes ainda. Nada comparável aos anos PT. 

A incompetência se deve também a preferir pessoas sem nível, subservientes, no seu círculo mais íntimo. Transmite ser pouco chegado ao trabalho de gabinete, preferindo um cotidiano em viagens, dando a impressão de estar em permanente campanha eleitoral. Não possui interlocutores de bom nível intelectual.

Infeliz nas teses que abraça, como no caso da pandemia, que, fora as posições caricatas, teve no seu governo um dos mais elogiosos planos de vacinação do mundo. E foi incapaz de colocar a Polícia Federal e o MP federal no encalço dos ladrões estaduais e municipais dos recursos que repassou aos estados e municípios. Brigou com todo mundo, inclusive com quadros respeitados de seu governo. O isolamento internacional chega a constranger brasileiros que mantêm laços no exterior.

Falasse menos, todos teriam saído ganhando. Pensa Bolsonaro que ser o maior líder popular e carismático da República possa ser suficiente para ser reeleito em pleito em que são cerca de 150 milhões os habilitados ao voto. Omisso em controlar seus adeptos na agressão aos que podem votar nele por opção. Querem só os votos dos seus. Fica dependendo de Lula para ter condições de disputar com chance.

Roberto Campos dizia que, neste tipo de opção como a que o Brasil vive, a chamada direita tem a vantagem de ser biodegradável, enquanto a esquerda leva décadas para largar os países que conseguem destruir em poucos anos. 

O eleitor consciente vai sofrer na hora de votar.
*Correção: O ministro Edson Fachin é sobrinho e não irmão do saudoso deputado Oly Fachin.
Aristóteles Drummond é jornalista