A vida política do Reino Unido após a saída da União Europeia se tornou um turbilhão de governos de curta duração incapazes de lidar com uma sucessão de crises. Nesta semana, Rishi Sunak se tornou o quinto primeiro-ministro do país em seis anos. Sua antecessora, Liz Truss, permaneceu no cargo apenas um mês e meio no cargo, a gestão mais breve da história britânica.
O que está acontecendo? Desde que o Reino Unido votou por deixar a União Europeia, em 2016, o país teve que enfrentar a turbulência de implementar sua saída do bloco, responder à pandemia do coronavírus e aos impactos negativos da guerra na Ucrânia. A ala do partido que apoiou o Brexit com frequência recorreu a uma retórica bastante questionável para criticar a União Europeia, sem uma avaliação realista dos custos de saída do bloco.
Durante todo esse tempo o país foi governado pelo Partido Conservador, cuja base social mudou para incorporar os eleitores descontentes com a União Europeia, oriundos principalmente das pequenas cidades atingidas pela desindustrialização e temerosos de imigrantes e do engajamento em uma economia global mais aberta e competitiva. É difícil manejar essa coalizão em conjunto com o eleitorado tradicional do partido, uma classe média mais próspera, de cidades ricas.
Sunak, o novo primeiro-ministro, é filho de imigrantes de Uganda e Tanzânia, ambos de famílias originárias na Índia. Criado em ambientes de elite, ex-banqueiro que entrou na política, é casado com a filha de um dos empresários indianos mais ricos, o dono da Infosys, gigante da área de tecnologia da informação. Sunak é primeiro premiê britânico que não é branco, nem cristão – pratica a religião hindu. Sua ascensão marca uma elite britânica mais diversa do ponto de vista étnico e cultural, mesmo que o Partido Conservador não tenha uma plataforma que favoreça imigrantes ou refugiados.
Ele tem pela frente uma agenda difícil na economia. Inflação mais alta em 40 anos, em especial nos preços da energia. Conflitos trabalhistas, com muitas greves e sindicatos que pressionam por aumentos de salários. Os impactos da guerra na Ucrânia e as tensões com a Rússia. Risco da Escócia se tornar independente do resto do Reino Unido. Sua antecessora, Liz Truss, tentou enfrentar essas dificuldades com cortes nos gastos públicos, em um plano mal recebido por empresários e operadores do mercado financeiro. A moeda britânica despencou de valor, e a premiê renunciou.
Sunak foi ministro das Finanças no governo de Boris Johnson (2019-2022) e sua gestão de resposta econômica à pandemia foi em geral bem avaliada, embora tenha recebido críticas por dificuldades em ajudar os mais pobres, e por exibições às vezes extravagantes do luxo de sua vida pessoal. Ele terá problemas em administrar sua imagem pública em meio a medidas que provavelmente imporão custos financeiros aos britânicos mais pobres e de uma classe média fragilizada pelas crises recentes.
* Maurício Santoro é doutor em Ciência Política pelo Iuperj, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro