Gilberto Braga - Opinião - O Dia Reprodução de internet

Página virada, Lula eleito presidente da República, e já começaram as especulações sobre o que acontecerá na Economia no ano que vem e sobre os nomes para compor a futura equipe econômica. A curiosidade é natural e explicável. Afinal, na reta final do segundo turno, Lula fez novas promessas e assumiu compromissos econômicos que são difíceis de serem equacionados.

Usando uma comparação com a matemática, é como se tivesse sido proposta uma equação impossível de ser resolvida, pelo menos no curto prazo. Uma equação matemática, geralmente é expressa por uma igualdade em que se busca a resposta para um ou mais problemas ou incógnitas.

Já no pronunciamento da vitória, o presidente eleito reafirmou o seu compromisso com a retomada e o incremento dos programas sociais, em especial do Minha Casa, Minha Vida, e o reajuste do salário-mínimo com ganho real acima da inflação. Além disso, a manutenção do Auxílio Brasil (ou Bolsa Família) em R$ 600, podendo ser acrescido de verbas complementares.

Como não há licença para gastar de forma indefinida, esses fatores não permitem construir uma igualdade na equação. Faltam receitas para honrar esses compromissos, ainda mais diante da promessa de isentar os trabalhadores que ganham até R$ 5 mil de salário mensal de pagar imposto de renda.

As propostas são boas, ninguém discute isso, mas o orçamento atual não as comporta. Tomando como comparação a velha balança usada nas feiras livres, será preciso rediscutir todo o equilíbrio financeiro, mexendo no prato das receitas e no das despesas. Para que dê certo, seja qual for o novo plano, é preciso criar nova regra fiscal crível, respeitada e duradoura. Essa medida é tão importante como colar os cacos das fissuras políticas para a construção de um novo vitral de país.

Nesse ano de 2022, as contas púbicas devem fechar com superávit, o que não deverá ocorrer no ano que vem, em meio a um cenário internacional de desaceleração econômica, com baixo crescimento do PIB global, principalmente das economias mais desenvolvidas, que são os nossos maiores parceiros comerciais.

Nesse cenário, o processo de privatização das estatais deverá ter reversão com Lula, o que era meta de Bolsonaro deixará de ser uma fonte de financiamentos para os gastos extraordinários. Esse quadro sugere que o novo governo Lula precisará negociar muito com o novo Congresso, teoricamente mais conservador, formando um novo bloco de sustentação para os seus planos, sejam eles quais forem, inclusive há apostas de formação de um novo (velho) Centrão; deixando os analistas ansiosos pela formação da equipe de transição, dos novos ministérios e das presidências das empresas estatais.

Há uma convicção de que o novo comandante da área econômica deverá ser, acima de qualquer outro atributo, um grande negociador. Portanto, aposta-se num nome com um perfil técnico de grande reputação e vivência no mercado ou um político com muita experiência e sem mácula no seu currículo. Logo, que não seja oriundo da chamada ala histórica do PT.

A sociedade espera renovação na área econômica, mas descarta um nome com características de Paulo Guedes, um técnico que era respeitado e admirado pelo mercado, mas com pouco traquejo político e que falhou diversas vezes nas negociações com o Congresso.

O período de especulação está aberto, de agora até a posse do novo governo, aceitam-se apostas. Como sempre na Economia, muitos perdem e tantos outros ganham com suas percepções. A conferir.
Gilberto Braga é economista e professor do Ibmec