Benedita da Silva - deputada federal (PT-RJ) Divulgação

Geralmente nessa data o movimento negro denuncia a discriminação racial que sofremos no dia a dia e nos chama para avançarmos na luta contra o racismo em nosso país. Mas, o 20 de Novembro desse ano é de vitória e exaltação da consciência negra que, com o maciço voto negro, ajudou de forma significativa na derrota do presidente racista e na eleição de Lula, um líder popular sempre comprometido com a defesa da igualdade racial.
O mercado agora reclama que Lula, ao invés de continuar excluindo o povo pobre e preto para pagar os juros dos bancos, quer fazer justiça social e promover a igualdade racial. Importante lembrar que o mercado também reclamou dos efeitos da abolição sobre o lucrativo negócio da venda de escravos.
Essa é a natureza do capital, que só pensa em si mesmo e nunca na vida do povo. É o próprio povo que tem de lutar por seus direitos e melhores condições de vida e foi isso o que fez o voto negro consciente quando elegeu Lula. Manter a mobilização do povo negro consciente é fundamental não só para a retomada das políticas de igualdade racial, mas também para obter mais conquistas no decorrer do novo governo.
O racismo no Brasil penetra em todos os poros da sociedade e vai precisar, ao lado da inclusão social e da garantia de direitos iguais, que o governo invista em Educação para as novas gerações combaterem a doença do preconceito racial.
Os dados gritam para denunciar essa violentíssima realidade social. O Atlas da Violência e o Fórum brasileiro de segurança pública informam que 77% das vítimas de homicídio são negras. Entre 2017 e 2018, 61% das mulheres vítimas de feminicídio eram negras. Nesse mesmo, período a taxa de negros e negras desempregadas era de 16%, acima da média nacional de 12%. Estudo do IBGE mostra que, em 2021, o rendimento médio dos brancos (R$ 3.099) era 75,7% maior do que o registrado entre os pretos (R$ 1.764).
Depois da fome ser praticamente extinta pelo governo do PT, a política de morte de Bolsonaro fez o Brasil voltar ao Mapa da Fome com 33 milhões de pessoas sem ter o que comer e mais de 105 milhões vivendo em insegura alimentar.
Embora esses dados sejam chocantes, o preconceito racial deixa boa parte da sociedade insensível à violência do racismo estrutural contra a população negra. Por mais importante que seja para o povo negro ter votado em Lula para presidente, temos que manter nossa mobilização para garantir a retomada de nossos direitos e obtermos novas conquistas na luta contra o racismo e o machismo, pois as mulheres negras são as maiores vítimas da discriminação racial e da violência contra a mulher.
Precisamos ampliar muito mais a representação política do povo negro nos espaços de poder, ainda muito desproporcional ao nosso peso majoritário na população do país. Apenas a garantia legal à participação proporcional na propaganda e nos fundos eleitorais é insuficiente, apesar de representar um avanço real. Temos, por exemplo, de conquistar também o direito à cota para candidatas e candidatos negros na nominatas eleitorais dos partidos, assim como já existe para as mulheres candidatas.
Enfim, o fortalecimento da consciência negra tem de ir além do voto e garantir a sua participação na formulação política do futuro governo Lula, em especial, nos campos da promoção da igualdade racial, dos direitos sociais e das políticas culturais.
Benedita da Silva é deputada federal (PT-RJ)