Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação

Lula não tem Posto Ipiranga. É ele mesmo quem dá as coordenadas. Caso os escolhidos para a área econômica não se adaptem a sua orientação, devem sair. Parece muito claro qual será o viés da política, restando saber quando economistas que construíram alguma reputação, embora sempre ligados à esquerda, vão admitir o engano trágico e anunciado de optar pela solução de uma coligação de esquerda tão plural e aguerrida. Emprestaram um aval a quem sabiam que não entregaria o bom senso de volta, ao que parece.
A população vai demorar a perceber o engano, exceto no mercado de ações e câmbio, pois as contas estão relativamente boas, com gorduras a serem gastas. E com o teto extra em aprovação, terá uma lua de mel de pelo menos 180 dias e não os clássicos 100 dias.
Mas Lula foi muito claro ao condenar teto de gastos, ao dizer que a prioridade é a fome, apesar de o Banco Mundial ter registrado que ela no Brasil anda pelos 2% dos 33 milhões badalados na campanha. Dizem que não vai ocorrer a privatização restante da gestão do Porto de Santos, por onde transita boa parte da riqueza nacional. O comércio internacional e a volta da cabotagem via marítima são atores importantes na Economia. Superávit fiscal é coisa da Faria Lima.
Muitos economistas de esquerda, quadros mais acadêmicos do que de mercado, defendem o uso de reservas para gastos. Esta hipótese pode gerar um primeiro atrito com o Banco Central, que é o gestor desses recursos.
Está demorando também uma palavra esclarecedora de que o apreço da nova equipe pelo MST se limita a sua produção de produtos orgânicos, frequentemente elogiados por Lula, não chegando à tolerância com invasões de terras, a qualquer pretexto.
A posse se aproxima e o quadro, sob o ponto de vista de ambiente acolhedor aos investimentos, vai ficando cada vez mais distante. No caso atual, a irritação com o comportamento de Bolsonaro faz lembrar a corda com que Lenine se referia com a qual o capitalismo iria se enforcar.
A culpa do presidente despreparado, que afrontou a sociedade mais culta, apesar de desempenho de seu governo satisfatório, não deveria justificar a ousada opção de um grupo de brasileiros integrados ao capitalismo, ao mercado de capitais, que é o coração do regime, em que não terão nem a desculpa de terem sido enganados.
Neste jogo, que começará no dia 1º de janeiro, o único que parece estar sendo coerente é o presidente eleito. Tentará segurar seus radicais, mas vai ceder o suficiente para anular as condições de uma Economia que estava na pista para decolar, com projetos aprovados e em andamento suficientes para gerar renda, emprego e qualidade de vida. A turma de líderes estrangeiros e “companheiros” que se prepara para vir a
posse não anda tendo muito sucesso em seus países.

Quanto à legitimidade da eleição o Brasil parece unido na aceitação do resultado, questionado por uma multidão de pessoas bem intencionadas, mas dominadas por um fanatismo gritante. Vamos aguardar. Rezando, é claro.
Aristóteles Drummond é jornalista