A Indústrias Nucleares do Brasil e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) investigam um caso de racismo e transfobia ocorrido dentro da unidade da estatal, em Resende, no Sul Fluminense. A gerente de Comunicação da empresa teria se recusado a aceitar um candidato aprovado em concurso público por ele ser negro e transgênero. O caso aconteceu no dia 13 de setembro desse ano.
Segundo a denúncia, realizada pelo Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e ao MPRJ, no dia do ocorrido, a gerente de Comunicação questionou uma funcionária do setor de Recursos Humanos (RH) sobre a convocação do novo Analista de Comunicação dentre os aprovados no concurso público. Ela foi informada de que o candidato já havia sido convocado na lista de aprovados de pretos e pardos, conforme norma vigente da política de cotas do concurso. Durante a conversa, a funcionária do RH disse que o próprio candidato já havia entrado em contato para avisar que, quando se inscreveu no concurso se reconhecia como do gênero feminino, mas que havia passado pela transição sendo, portanto, um homem trans.
Foi neste momento que a gerente de Comunicação teria se manifestado "usando palavras duras e desrespeitosas para referir-se ao candidato", como mostra a denúncia. Ela teria dito que não aceitaria ninguém que: "além de preto, fosse viado" e que não tinha mérito para assumir a vaga. Afirmou ainda que o RH deveria tê-la comunicado antes de convocar o candidato. Uma outra funcionária teria intervido e pedido que ela focasse apenas na capacitação técnica do profissional que havia sido aprovado no concurso público.
Ainda no mesmo dia, a denunciada teria procurado novamente o setor de RH reafirmando sua posição. Informou ainda que, mesmo se ele fosse contratado, ela o demitiria após três meses de trabalho. Quando o gerente de RH chegou ao setor, ela manteve seu pedido e teria repetido por diversas vezes que a contratação de um candidato negro e transgênero traria "vergonha à empresa". Ao sair da sala, ela teria falado a seguinte frase na frente de outros funcionários: "Essa p****, além de preto, é viado. Ainda deve ser petista, aposto". O caso foi reportado à direção da empresa.
Por nota, a Indústrias Nucleares do Brasil disse que não concorda com nenhum ato de discriminação. Que este princípio está fixado no Código de Ética, Conduta e Integridade da empresa. Destacou ainda que, desde o ocorrido, já está conduzindo a devida apuração dos fatos pelos órgãos competentes internos, seguindo o rito previsto nos manuais da empresa, onde, após a devida análise, será dado o encaminhamento adequado. Reforçou que todos os processos de admissão de concursados estão ocorrendo normalmente, de acordo com a classificação do concurso e o previsto no respectivo edital.
O MPRJ informou que recebeu uma ouvidoria relatando o fato, que foi encaminhada para a Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Resende, responsável pela investigação. O caso também foi registrado na terça-feira (27) na 89ª Delegacia Policial de Resende.
A denunciada disse que: "Já foram prestados esclarecimentos aos órgãos competentes internos da empresa e aguardarei que seja finalizada a apuração total dos fatos para realizar qualquer tipo de manifestação."
SOBRE A INB A Indústrias Nucleares do Brasil é uma empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Exerce, em nome da União, o monopólio da produção e comercialização de materiais nucleares. Também trabalha na execução de serviços de engenharia do combustível e na produção de componentes dos elementos combustíveis. Atua na cadeia produtiva do urânio, que inclui a mineração, o beneficiamento, o enriquecimento, a fabricação de pó, pastilhas e do combustível que abastece as usinas nucleares brasileiras. Além de Resende, possui unidades em São Francisco de Itabapoana (RJ), Caetité (BA), Caldas (MG) e São Paulo. A Sede da INB fica na cidade do Rio de Janeiro e o escritório em Fortaleza (CE), base do Projeto Santa Quitéria.
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