Por gabriela.mattos

Rio - "Meus Deus, meu coração está sangrando. Está um buraco. Por que você meu deixou, meu filho? Eu te amo!”. O desabafo é de Tayane Pereira da Silva, mãe do menino Ryan, morto no domingo de Páscoa, na casa do avô, no Cajueiro. Bastante abalada, ela tentou até evitar que o filho fosse enterrado em Irajá. Quando o caixão do menino foi posto na sepultura, ela gritou: “Podem voltar, não vou enterrar meu filho, não. Enfiaram uma faca no meu coração”.

Desolado, o avô de Ryan, Milton do Amparo, lembrou que o neto, que tinha o sonho de ser soldado do Exército, não teve tempo sequer de comer o ovo de Páscoa, que acabara de ganhar. “Ganhou o bombonzinho dele e nem chegou a comer. Deram tiro numa criança de quatro anos. A Justiça será dele”, disse apontando para o céu. Ryan foi baleado no peito durante um tiroteio entre traficantes do Cajueiro e Serrinha.

No enterro%2C amigos e familiares pediram o fim da violênciaAlexandro Auler / Agência O DIA

Protesto pela morte de Ryan para Madureira mais um dia

Pelo segundo dia consecutivo, a Avenida Edgar Romero, em Madureira, na Zona Norte, se transformou em cenário de guerra entre moradores do Cajueiro e policiais militares. Cerca de 200 pessoas fizeram manifestação nesta terça-feira após o corpo do menino Ryan Gabriel Pereira, de 4 anos, vítima de bala perdida na região, ser enterrado no cemitério de Irajá. O protesto, que começou por volta das 16h, terminou novamente em confusão, fechou ruas e o comércio, além de causar pânico e correria no bairro. Os ônibus do BRT Transcarioca também foram impedidos de passar pelo local, deixando centenas de passageiros a pé.

A manifestação, que começou de forma pacífica e com a presença de amigos e do avô de Ryan, Milton do Amparo, era pacífica, mas em alguns momentos, adolescentes tentaram invadir a estação do BRT Otaviano, que foi depredada na segunda-feira e PMs tiveram de intervir. Manifestantes, que carregavam um caixão em protesto contra o governo estadual e à violência na cidade, sentaram no chão, fizeram orações e cantaram o hino nacional.

Pelo segundo dia seguido%2C houve tumulto e correria em protesto%2C em Madureira%2C na Zona NorteAlexandro Auler / Agência O DIA

Por volta das 18h, homens do Batalhão de Choque entraram em operação para tentar dispersar o grupo e bombas de efeito moral foram lançadas. Manifestantes jogaram garrafas de vidros e atiraram fogos de artifícios em direção aos PMs, que revidaram com tiros de borracha. Moradores queimaram lixeiras e fecharam acessos do Cajueiro. A Avenida Edgard Romero ficou fechada nos dois sentidos por mais de três horas.

Escolas da região não abriram desde a manhã, deixando cerca de 3.601 alunos de 12 unidades da rede estadual e municipal sem aula. De acordo a Secretaria Municipal de Educação, o conteúdo das aulas serão repostos para os 1.601 alunos de dez unidades de ensino. O menino Ryan foi atingido no Domingo de Páscoa por uma bala durante confronto entre traficantes no Morro do Cajueiro.

Mãe de vítima de Costa Barros presta solidariedade

A dor sentida pela mãe de Ryan foi compartilhada por outras pessoas, que também perderam seu filhos, vítimas de violência. Mônica Aparecida Correia , mãe de Cleiton Correia de Souza, de 18 anos, fuzilado e morto com outros quatro amigos dentro de um carro, em Costa Barros, em novembro do ano passado, esteve no cemitério para prestar solidariedade. “Vim dar um simples abraço na mãe de Ryan. O sofrimento dela ainda é maior do que o meu, pois vou poder fazer Justiça. Quem atirou no meu filho foram policiais. E o dela, que nem sabe quem atirou no filho?”, lembrou.

O filho dela foi atingido por 11 tiros de fuzil e enterrado em Irajá. “Além da dor, ainda tive que sepultar meu filho à noite”, chorou. No sepultamento de Ryan, também houve manifestações. O Movimento ‘Somos Todos Vítimas’, criado após a chacina de Costa Barros, levou um caixão com a bandeira do Estado. Familiares, além de camisas com a imagem de Ryan, levaram cartazes em sinal de protesto: ‘Se fosse filho de governador e prefeito, esse crime não ficaria impune’ e ‘Cajueiro pede paz’.

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