Rio - Cerca de 20 mil de pessoas fazem um protesto a favor da democracia e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, nesta quinta-feira, no Largo da Carioca, no Centro. O ato também é simbólico, pois ocorre um dia antes dos 52 anos do golpe que iniciou a Ditadura Militar. Com o grito de guerra de "não vai ter golpe", os manifestantes ainda levaram cartazes e faixas contra o PMDB, que abandonou o governo no início da semana; o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que é réu em processo no Supremo Tribunal Federal.
Alguns artistas participaram do ato, como o cantor Chico Buarque, que subiu ao palco sob o grito "Chico, guerreiro do povo brasileiro" e reforçou que a população deve ir às ruas contra o golpe. "Dilma foi eleita democraticamente", disse o artista, que também iniciou o coro de "não vai ter golpe".
"Vim dar um abraço nessa gente, gente de todas as tribos, das mais diferentes convicções políticas, gente que votou no PT, gente que não gosta do PT, gente que foi do PT e que se desiludiu com o partido, gente que votou na Dilma, gente que votou na Dilma e que está decepcionada com seu governo, mas sobretudo gente que não pode ter dúvida da integridade da presidente Dilma Rousseff. Portanto, é claro que estão todos aqui unidos pelo apreço à democracia, em defesa intransigente da democracia. Eu vejo gente no palanque, na praça, gente da minha geração que viveu o 31 de março de 1964. Mas vejo sobretudo uma imensa juventude que não era nem nascida, mas que conhece a história do Brasil. Estou aqui para agradecer vocês que me animam a acreditar que não, de novo não. Não vai ter golpe", disse o cantor e compositor.
A atriz Bete Mendes e as cantoras Teresa Cristina e Cristina Buarque de Holanda também estiveram presentes na manifestação.Elas também destacaram a importância de respeitar o mandato de Dilma, já que ela foi eleita pelo povo. "É uma manifestação pelo estado democrático de direito. Se a democracia está em risco, o medo é que a gente perca as conquistas que a gente teve até agora", lembrou Teresa Cristina.
Além de representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do PT e líderes sindicais, o protesto reuniu ainda parlamentares, como o deputado federal Luiz Sergio (PT), e os estaduais Carlos Minc (Sem partido) e Eliomar Coelho (Psol). Minc se colocou contra o impeachment de Dilma e afirmou que ela foi eleita democraticamente. Para o ex-secretário de Meio Ambiente, a saída do PMDB da base aliada foi uma forma de "golpe". "Esse ato pela democracia é muito importante. Já passei pela ditadura e não quero ver isso de novo. Quero um governo livre", destacou o deputado.
O prefeito de Maricá, Washington Quaquá, disse que "o setor da grande mídia, associado com o Poder Judiciário, vem destruindo direitos individuais". Ele afirmou que a população está reagindo contra o fim das garantias individuais no país. "A rua está aí e vai exigir que o país passe por profundas mudanças. Vamos continuar na rua mesmo derrotando o golpe, para que o Brasil seja cada vez mais justo", completou.
Parlamentares de oposição ao governo também participaram do protesto, como o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol). Ele enalteceu a importância de as ruas do Centro estarem cheias, já que seria bom para a democracia. "Primeiro, é necessário entender que a praça cheia não é um problema, é uma solução. Ruim é quando as praças estão vazias e as pessoas têm medo. Eu tenho medo de quando o medo de quando o povo não quer ir para a rua. É um local de disputa, de debate", ressaltou o parlamentar.
Além disso, Freixo "não é honesto" dizer que o impeachment está previsto na Constituição. "O que não está previsto na Constituição é impeachment sem estar comprovado. Esse é o debate que estamos fazendo. Não estou aqui para defender o governo de Dilma, mas concordo que esse governo foi eleito e isso é o que mais custa na democracia. Esse governo deve ser debatido, criticado, mas nas regras democráticas", explicou o deputado.
O vereador Leonel Brizola Neto (PDT) lembrou da data do início da ditadura militar, em 1964, e disse que o "Brasil está em uma encruzilhada histórica". "Temos que ter consciência do que está em jogo. Podemos inclusive repetir o golpe de 1964, porque são os mesmos 'filhotes da ditadura', os mesmos componentes. São os mesmos agentes que agora querem dar o golpe na República e vender o Brasil, Moreira Franco, Michel Temer. Como Brizola dizia, 'é preciso abrir as mochilinhas da ditadura", afirmou.
A aluna de mestrado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marina Albuquerque também reforçou que o processo de impeachment não é legal neste caso, apesar de ser previsto na Constituição. "Não consiste crime de responsabilidade fiscal contra Dilma, então é golpe. É importante que toda população tome consciência de informações que elas não estão sabendo", acrescentou.
Segundo o Centro de Operações da Prefeitura do Rio, o trânsito ficou lento entre 17h e 19h e apresentou retenções ao longo da Avenida Presidente Antônio Carlos, no sentido Candelária. Policiais militares e agentes da Cet-Rio acompanharam o ato que é pacífico. Em clima de festa e sem confusão, o protesto permaneceu parado no Largo da Carioca e os manifestantes assistiram a shows em um palco montado na praça. Além disso, eles promoveram um abraço coletivo a favor da democracia.
?Com reportagem do estagiário Rafael Nascimento