Rio - Parte da ciclovia Tim Maia, em São Conrado, na Avenida Niemeyer, Zona Sul do Rio, desabou na manhã desta quinta-feira. O trecho da queda tem 50 metros e fica na altura do número 500. De acordo com o Corpo de Bombeiros, dois homens morreram por conta do desabamento da estrutura e seus corpos foram resgatados no mar. Três pessoas ficaram feridas. As buscas por vítimas continuam na região. Agentes da CET-Rio estão no local e por conta do acidente, a via está totalmente interditada nos dois sentidos.
Polícia Civil abre inquérito para investigar desabamento de ciclovia
Segundo os bombeiros, militares do quartel da Gávea, do Humaitá e do Grupamento de Operações Aéreas foram acionados, no fim da manhã desta quinta-feira, para uma ocorrência de queda de pessoa no mar, na Avenida Niemeyer, em São Conrado.
Um dos mortos foi identificado como Eduardo Marinho, de 54 anos, era engenheiro e morador de Ipanema. A médica Eliane Albuquerque, mulher da vítima, foi ao local, reconheceu o corpo e foi embora amparada por estar muito abalada.
Segundo João Ricardo Tinoco, cunhado da vítima, o engenheiro saiu nesta manhã para caminhar e passava pela área quando a ciclovia desabou.
A outra vítima foi identificada na noite desta quinta-feira como Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos.
Segundo as primeiras informações, a ciclovia foi derrubada por uma forte onda que além de destruir o local, também quebrou o parabrisa de um ônibus e teria arrastado uma mulher no calçadão.
O secretário municipal de Governo do Rio, Pedro Paulo Carvalho, classificou o acidente como "inaceitável". Segundo ele, "a situação é muito triste". De acordo com o político, mergulhadores do Corpo de Bombeiros -- com a ajuda de motos aquáticas -- procuram uma possível terceira vítima. Ainda de acordo com Carvalho, toda a ciclovia ficará interditada por tempo indeterminado.
Técnicos da Prefeitura estão no local para apurar as circunstancias do acidente.
Nessa quarta-feira moradores e turistas afirmaram que sentiram um tremor na via. "Ontem de manhã eu levei três turistas no Castelinho e sentimos a ciclovia tremendo muito cada vez que uma onda batia. Eu comentei que aquilo ia acabar caindo", contou Ana Lima, guia de turismo.
De acordo com a assessoria do prefeito Eduardo Paes, ele chegou nesta quinta a Atenas, na Grécia, mas já está providenciando um voo para voltar ao Rio.
O secretário municipal de obras, Alexandre Pinto, afirmou que "não pode garantir se vai ou não haver outros desabamentos" na ciclovia. Ainda de acordo com Pinto, a Prefeitura não tem prazo para concluir as obras de reparos da parte que desabou.
O Consórcio Contemat-Concrejato informou que uma "equipe técnica da empresa já se encontra no local, trabalhando em coordenação com a Secretaria Municipal de Obras. As prioridades neste momento são garantir o atendimento às vítimas e seus familiares e avaliar as causas do acidente".
Sobre o desabamento
"Provavelmente, o que aconteceu foi um problema de projeto", afirmou José Schipper, vice-presidente do Crea-RJ. De acordo com o engenheiro, "o que pode ter acontecido, foi um problema de projeto, que não deve ter levado em conta um esforço de carga forte vertical, de baixo para cima, nem transversal. A ligação entre os pilares e a parte horizontal da estrutura é feita com amarração de ferro. Eles estão interligados, mas talvez não o necessário para aguentar a força de ondas fortes como essas", disse.
Ainda de acordo com o especialista, a estrutura poderá ser reparada, no entanto é preciso fazer um "reforço" uma "amarração do pilar junto com o tablado da ciclovia".
O engenheiro Raul Rosas, professor do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio, concorda com o vice-presidente do Crea-RJ. “Uma onda forte deve ter atingido a estrutura de baixo para cima causando uma força aparentemente superior ao que foi previsto no projeto, que arrancou a base da ciclovia”, avaliou.
Segundo o especialista, os projetos de engenharia civil devem prever cargas verticais e horizontais que podem sobrecarregar a estrutura. “Teria que ser prevista uma carga eventual de baixo para cima. Pela imagem que se viu, a infraestrutura da ciclovia e os pilares em si estão em boas condições. O problema deve estar na ligação entre a pista da ciclovia e os pilares”, acrescentou.
Outra hipótese apontada pelo engenheiro é que tenha havido uma falha na execução da ligação entre os pilares e o piso da ciclovia especificamente no ponto onde o acidente aconteceu. “Se foi isso, seria menos generalizado. Esperamos que seja um problema local, algo pontual. O reforço é possível”, apontou.
O professor da PUC e o vice-presidente do Crea-RJ compararam a possível causa do desabamento de parte da ciclovia da Niemeyer com a queda de uma passarela na Linha Amarela, em 2014, que foi atingida por um caminhão. Na ocasião, cinco pessoas morreram e quatro ficaram feridas.
Em entrevista a Globo News, o especialista em gerenciamento de risco, Moacyr Duarte, afirmou que “a alegação de que a onda está grande e maré de lua cheia é maior é verdade, só que é um fenômeno recorrente e fez parte do estudo para o projeto que foi feito, então, esta explicação não vale”, afirmou.
“A onda entrou em determinado ângulo, correu por aquele paredão menos inclinado, bateu explodiu em direção na vertical, para cima, quando fez isso ela tirou a passarela de cima, porque as colunas estão inteiras”, finalizou.
O desabamento ocorreu pouco mais de quatro meses após sua inauguração. Inaugurada em meados de janeiro, a ciclovia Tim Maia liga o Leblon a São Conrado e tem sete quilômetros de extensão.
A ciclovia Tim Maia – que ganhou o nome do cantor porque, no projeto original, vai ligar o Rio "Do Leme ao Pontal" – tem um trajeto total, que ligará o Leblon à Barra da Tijuca. A construção da via foi feita pela empresa Concremat e teve o inicio em junho de 2014 com um custo de aproximadamente R$ 45 milhões.
Procurada, ninguém da Concremat foi localizado para comentar o acidente.
Em 17 de janeiro, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, inaugurou a primeira parte da ciclovia, que vai apenas do Leblon à São Conrado e tem apenas 3,9 quilômetros. Ainda não há data para a entrega da segunda parte da pista, que vai ligar São Conrado à Barra.
Confira o vídeo da parte da ciclovia de São Conrado que desabou:
Colaboraram os estagiários Rafael Souza, Carolina Moura e Laila Ferreira