Por bianca.lobianco

Rio - Os números de roubos de veículos não refletem a realidade de casos ocorridos no estado. O critério usado para tipificar o crime mascara estatísticas pelo fato de em muitas ocorrências ser levada em conta a intenção de criminosos usarem o veículo roubado em outros crimes. Desta forma, o registro é feito como “roubos outros” e não “roubo de veículo”. Assim estão ocorrências de 717 veículos roubados e que não aparecem em números do Instituto de Segurança Pública (ISP), entre janeiro e abril deste ano.

Um exemplo de que os dados não são computados como “roubo de veículo”, foi o do caso que ocorreu em fevereiro, quando assaltantes roubaram dois caminhões e retroescavadeira de empresa em São Cristóvão, Zona Norte do Rio. Os bandidos usaram os veículos para tentar roubar caixa eletrônico. Como eles tinham como objetivo arrombar o caixa, o registro em relação aos automóveis foi tipificado como “roubos outros” e não “roubo de veículo”.

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O DIA constatou este detalhe ao analisar os 14.032 registros de roubo de automóveis no período, que só considera para contabilidade do indicador “roubo de veículo” casos com motos e carros, totalizando 13.074 veículos levados por assaltantes, de acordo com determinação da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). Roubos outros são contabilizados em um indicador a parte, intitulado “total de roubos”, que incluem também roubo a turista, por exemplo.

Entre esses números invisíveis nas estatísticas criminais de veículos, além de caminhões e retroescavadeiras, roubados das mais diversas formas, estão roubos de automóveis e motocicletas que as investigações ainda não foram concluídas ou que a intenção do criminoso não era de roubar o veículo, somente praticar roubos com ele. Esses casos também são incluídos como “roubos outros”.

Ainda há os casos de registros de “roubo de carro com carga” que totalizam 254. Nesses, o objetivo era roubar o que estava sendo transportado, não o veículo. No entanto, esses são incluídos no indicador “roubo de carga”, segundo o Instituto de Segurança Pública.

Roubo de veículos é um dos indicadores que o site da Secretaria Estadual de Segurança Pública define como “crimes que têm maior impacto na sensação de insegurança da população”.

Por conta disso, ao lado dos casos de letalidade, sua redução é levada em conta no chamado sistema de metas dos agentes públicos — quanto menor o roubo de veículo na sua área, melhor são avaliados o batalhão policial e a delegacia, que podem subir de colocação no ranking de gratificações para os agentes.

ISP diz que contabiliza motos e carros

A reportagem do DIA questionou o Instituto de Segurança Pública e a Polícia Civil sobre a disparidade dos dados. Em resposta, o instituto confirmou que só considera para contabilidade do indicador em questão os roubos de motos e de carros.

Em nota, informou que se baseia na tipificação escrita nos registros de ocorrência para fechar as estatísticas, atualizadas a cada duas semanas pelo setor de inteligência da polícia. O ISP ressaltou ainda “que os dados consultados podem estar sem as correções nas tipificações solicitas pela coordenadoria de inteligência da Polícia Civil”.

Já a Polícia Civil afirmou que “tanto durante o curso de formação policial quanto em cursos de aperfeiçoamento realizados pela Academia de Polícia sobre a Delegacia Legal, os alunos possuem uma disciplina específica sobre os sistemas policiais, englobando o aprendizado necessário para o correto preenchimento dos registros de ocorrência”.

A instituição explicou que “periodicamente são encaminhados microdados das ocorrências ao ISP, seguindo os parâmetros solicitados pelo órgão, para permitir o desenvolvimento de seus trabalhos”.

REGISTROS

Avenida Brasil é campeã de roubos
Entre os quase 14 mil registros de roubos no Estado do Rio, a Avenida Brasil aparece como a área campeã de veículos roubados.

Naquela área foram 547 roubos nos meses analisados pelo levantamento.

Em seguida, a Avenida Pastor Martin Luther King aparece com 296 roubos.

As rodovias Presidente Dutra (186 registros); Washington Luiz (120); e Presidente Kennedy (115) também estão na lista das áreas mais visadas pelos assaltantes que roubam veículos.

Entre os automóveis mais roubados estão os de modelo HB 20 e as motos Honda.

A maioria dos registros de roubo não contém detalhe como modelo completo do veículo, somente o chassi.

A reportagem do DIA também teve acesso aos registros de ocorrências de recuperação dos veículos. No total dos automóveis roubados, 7.561 foram recuperados (51,2%), a maioria avariada.

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