Por gabriela.mattos

Rio - Em mais uma operação da PM na favela São José Operário, na região de Jacarepaguá, onde a jovem de 16 anos foi vítima de estupro no dia 21 de maio, foram apreendidos 220 quilos de maconha e dez motos roubadas, na tarde desta terça-feira. Em nota, a assessoria de imprensa da PM não confirmou que o objetivo era prender os suspeitos e informou apenas que “a incursão na localidade foi com o objetivo de oferecer maior sensação de segurança à população e combater crimes”. Não houve prisões.

Entre os seis suspeitos de envolvimento no estupro da jovem que tiveram prisão temporária decretada está o chefe do tráfico da favela, Sérgio Luiz da Silva, conhecido como Da Russa. Responsável pela investigação, a delegada Cristiana Onorato Bento, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), já afirmou que o traficante “tem domínio do fato do que acontece no morro”.

Para aumentar a sensação de segurança na região onde ocorreu o estupro coletivo%2C policiais militares fizeram operação no Morro São José Operário e apreenderam drogasDivulgação

Há informações, segundo policiais, de que Da Russa estava nas imediações da casa onde a jovem foi violentada, chamada por moradores da favela de “abatedouro”. Outros traficantes estão sendo procurados na investigação do estupro. “É balela dizer que traficante não faz (estupro). Traficantes entram nas residências, pegam as meninas e estupram. As meninas não revelam o abuso por medo dos traficantes”, disse a delegada Cristiana Bento, da DCAV, em entrevista, na segunda-feira.

Nova identidade para a vítima

As ameaças de morte à jovem de 16 anos vítima de estupro coletivo em uma comunidade da Praça Seca são tantas que a adolescente deverá até mudar de identidade. O secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Paulo Melo, disse nesta terça-feira que a coordenação do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) estuda a mudança em razão das ameaças. A adolescente até já teria deixado o estado.

“Ela recebeu ameaças de morte até de gente de fora do Rio. Por isso a coordenação do programa avalia a hipótese de a menina trocar de identidade. Os familiares dela estão com medo da vingança de traficantes”, disse o secretário nesta terça-feira, ao visitar a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, onde a delegada Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), tomou novos depoimentos de Raí de Souza, de 22 anos, e Lucas Perdomo Duarte Santos, 20 anos, presos pela acusação de estuprarem a menina. Outros quatro acusados tiveram a prisão temporária decretada mas estão foragidos.

No novo depoimento, Raí teria modificado a versão sobre sua participação no crime. Na primeira versão, ele teria admitido à polícia que gravou o vídeo em que a adolescente aparece nua e desacordada. Já nesta terça-feira, segundo seu advogado, o suspeito declarou que emprestou o celular a um amigo, que foi quem gravou as imagens. “Raí disse à polícia que quem filmou foi Jefferson (conhecido como Jeffinho). Ele pegou o telefone do Raí e gravou o momento em que manipulavam a vagina da garota. Jeffinho e Raí são amigos de infância”, disse o advogado de Raí, Alexandre Santana, que esteve na Cidade da Polícia para conversar com o seu cliente.

Jefferson, cujo sobrenome e idade, Alexandre Santana não soube dizer, seria o nome do sétimo suspeito do estupro que a polícia identificou na última segunda-feira. De acordo com o advogado, Raí não estava na casa no momento da gravação do vídeo. “Ele entrou quando terminavam de filmar”, declarou o advogado.

O advogado explicou ainda que Raí e Lucas estavam com a jovem e a amiga num baile funk e as levaram para o “abatedouro” (termo utilizado para descrever a casa onde aconteceu o crime de estupro). “Ela (vítima) teve relação sexual consentida com Raí. Mas não havia 30 pessoas lá. Eram só eles dois, as meninas, Raphael (rapaz que estaria no vídeo manipulando o corpo da jovem) e o Jeffinho”, disse o advogado, negando que eles tenham dopado a adolescente. A defesa de Lucas nega que ele estivesse no local.

Ainda estão foragidos os suspeitos Marcelo Miranda Correa, acusado de divulgar o vídeo na internet, Raphael Assis Duarte Belo, que aparece na cama fazendo uma selfie com a vítima, Sérgio Luiz da Silva Júnior, o Da Russa, suposto chefe do tráfico do Morro São José Operário, e Michel Brasil da Silva, também suspeito de divulgar o vídeo. O sétimo suspeito seria o tal Jeffinho.

Um abaixo-assinado online, no site Change.org, quer que o Twitter entregue à Polícia Civil a lista de pessoas que usaram a rede social para compartilhar o vídeo do estupro. Nesta terça-feira, após sair da Cidade da Polícia, onde os suspeitos Raí e Lucas prestaram novo depoimento, a delegada afirmou que não podia dar mais informações sobre o caso.

Governo federal pagará por mais policiais na prevenção

Para reforçar o combate à violência contra a mulhee, o governo federal irá “comprar” folgas dos policiais para que eles trabalhem na prevenção e repressão de agressões domésticas e crimes de natureza sexual. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, anunciou a medida ontem, após reunião com secretários de segurança dos 26 estados e do Distrito Federal.

O objetivo é aumentar o efetivo do policiamento local nas comunidades onde há mais ocorrência de crimes contra a mulher. “Vamos realizar verdadeiros mutirões na área repressiva, para que as mulheres não tenham dificuldades de encontrar um policial que possa ajudá-las”, afirmou o ministro.

De acordo com Moraes, os casos de violência doméstica coincidem com os locais onde há aumento no número de homicídios em geral. A verba para a medidas será do orçamento da Força Nacional.

Segundo o ministro, serão criados, ainda, um núcleo federal de enfrentamento à violência de gênero e um cadastro nacional de medidas restritivas contra os agressores. Cada unidade da federação deverá enviar ao Ministério da Justiça um banco de dados sobre os crimes de violência contra a mulher. “A ideia é redimensionar o policiamento preventivo e ostensivo”, disse Moraes. Outro projeto do governo federal é unificar o protocolo de atendimento à mulher vítima de violência, não só burocrático mas também social.

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