Rio - Famílias animadas, empurra-empurra, muito samba com mulatas, artistas circenses com malabares e pernas de pau e até protesto contra a Olimpíada. Teve de tudo na inauguração do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), neste domingo, Dia Mundial do Meio Ambiente, na Região Portuária do Rio. Mesmo em um domingo que começou chuvoso, os cariocas saíram de casa para passear e conhecer a nova “atração turística” da cidade.
O administrador Ricardo Luiz da Silva, de 62 anos, veio da Ilha do Governador e trouxe toda a família. “Quando tinha oito anos, eu via o antigo bonde passar aqui. Agora trouxe minha mulher, filhas, neta e genro. É emocionante explicar a evolução dessa região”, empolgou-se. Enquanto o prefeito Eduardo Paes sambava, dividia cumprimentos entre correligionários e transeuntes e acenava para câmeras, manifestantes gritavam palavras de ordem como “O Rio não pode parar!”.
Antônia Barbosa, 68, acusava guardas municipais de truculência. Durante o ato, ela acabou prendendo o pé em um bueiro aberto com fiação exposta. “Vim protestar por conta desse absurdo — uma obra que não acabou — e me machuquei. Esses seguranças ficam expulsando a gente do ambiente com grosseria. Quero que respeitem meus direito de cidadã”, bradava, enquanto era socorrida por amigos.
GALERIA: VLT é inaugurado no Rio
Batedores acompanhavam os VLTs a fim de buzinar e dispersar curiosos que caminhavam na via em busca da melhor selfie. Apesar de ter muitos agentes de segurança, as pessoas insistiam em desobedecer aos avisos dos guardas. Já os condutores dos trens não se furtavam em tocar a buzina toda vez que algum distraído teimava em ficar no meio do caminho. Em algumas paradas do percurso, a bateria da escola de samba Portela, com seus ritmistas a caráter e passistas usando esplendor — além de artistas circenses — tornavam a espera pelo próximo VLT menos entediante.
“Estou esperando há mais de 20 minutos e não consigo entrar. Quando o VLT chega, quem está dentro não quer sair, e quem está fora não consegue entrar. Espero que melhore nos próximos dias”, torcia a dona de casa Cleuma dos Santos, 45. Muita gente não se preocupou com a demora. “É minha primeira vez no Rio. Estou impressionado com esse transporte. Moro em Lima, no Peru, e não tenho isso lá”, comparava o chef de cozinha Michel Toro, 25, entre uma selfie e outra com o VLT ao fundo..
Falta de lixeiras e segurança
Dentro do VLT, Ricardo e sua família ficaram impressionados com a estrutura do trem. “Não faz barulho, e o ar-condicionado funciona. Só de lembrar do trânsito na Avenida Rio Branco, parece uma viagem no túnel do tempo”, lembrou. Para sua filha, a pequena Eduarda, de 6 anos, algo incomodava: “Tenho uma reclamação a fazer: falta lata de lixo”.
Além de poucas lixeiras, a estrutura deixou a desejar. Para a administradora Denizete Piombini, 47, os vidros reforçados das estações podem ser um perigo. “É um absurdo ter teto e guarda-corpo de vidro. Isso pode virar arma contra a população. Não quero nem imaginar como será no Carnaval ou durante alguma manifestação. Sem falar na sinalização deficitária, que não impede e nem alerta as pessoas para só atravessar a pista na faixa, que também está mal sinalizada, quase não dá para ver”. O marido dela, o engenheiro Josias Serafim, 50, reforçava: “Foi um gasto desnecessário.”
A primeira fase do VLT interliga a Parada dos Museus até o Aeroporto Santos Dumont. Nessa fase inicial, uma frota de três VLTs fará viagens gratuitas, com intervalo de 30 minutos, de segunda a sexta-feira, das 12h às 15h, com embarque e desembarque em oito paradas nos dois sentidos. “Pedimos que a população fique atenta. O VLT vai andar em velocidade baixa. Principalmente nesse início. Mas é obvio que as pessoas têm que respeitar. Tem que ficar atento, não dá pra ficar distraído com celular”, destacou o prefeito. “Até a Olimpíada todos os trechos e paradas funcionarão 24 horas”, garantiu.
?Reportagem de Gabriel Sobreira