Rio - O Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) procura por outros vídeos do estupro coletivo sofrido pela jovem de 16 anos no Morro da Barão, na Praça Seca. Peritos examinam o celular de Raí de Souza, 22 anos, que está preso por suspeita de envolvimento no crime. No seu aparelho foram encontrados dois vídeos que mostram momentos distintos da violência.
A análise do primeiro vídeo mostra que quatro pessoas participaram do estupro. Esse vídeo foi encontrado na pasta do Whatsapp de Raí e foi enviado para quatro pessoas pelo acusado. A segunda filmagem mostra um homem introduzindo um batom na genitália da menor e foi enviado uma única vez por Raí para outra pessoa, pelo mesmo aplicativo. No entanto, Raí apagou todos os arquivos do celular,com exceção dos vídeos enviados e salvos na pasta do Whatsapp. A análise do ICCE irá mostrar se as filmagens foram realmente feitas pelo celular de Raí ou se ele somente as enviou. Também deverá mostrar o intervalo dos vídeos e se há outras cenas do crime.
Os peritos somente apontaram na análise do primeiro vídeo que há quatro pessoas distintas no quarto conhecido como abatedouro.Os investigadores já conseguiram identificar duas pessoas na cena — uma é Raí, identificado pela risada e, o outro, é Raphael Belo, 41, que também está preso. Belo também seria, segundo os investigadores, o homem que aparece introduzindo o objeto na jovem, no segundo vídeo. Ele foi identificado pela voz rouca e grossa.
“Acreditei que ele realmente teria somente feito a selfie no primeiro vídeo e ajudado a vítima depois, como alegou em carta. Ele realmente a ajudou, a levou para casa e deu comida. Mas foi peso na consciência. É ele quem aparece no vídeo a maltratando”, afirmou um dos investigadores.
Raí confessou estar na cena do crime após um dos seus chinelos aparecer em uma filmagem. Quando se entregou na delegacia, ele usava o mesmo calçado. Até então, negava aparecer nos vídeos, segundo policiais. Ao ser confrontado pelos investigadores, teria dito: “Poxa, o chinelo aparece? Vou mudar meu depoimento”, relatou um dos agentes.
Criticado no início da apuração do estupro e afastado do caso, o titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, Alessandro Thiers, entregou o cargo ontem. Em seu lugar assume a delegada Daniela Terra, que era da 33ª DP (Realengo). Segundo o diretor-geral das especializadas, Ronaldo Oliveira, Thiers pediu para sair.
Advogado de Raí foi defensor de chefe do tráfico
O primeiro advogado a aparecer ao lado de Raí de Souza na Cidade da Polícia foi Cláudio Lúcio da Silva. O mesmo advogado aparece como defensor de Sérgio Luiz da Silva Júnior, vulgo Da Russa, apontado como chefe do tráfico no morro da Barão, no processo mais recente contra o traficante, na 11ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.
Da Russa também é procurado pela Dcav (Delegacia Criança e Adolescente Vítima) como um dos suspeitos de envolvimento no estupro coletivo. No entanto, segundo investigadores, ainda há dúvida se a especializada irá realmente continuar com a sua representação ao final do inquérito.
Isso porque, o seu pedido de prisão está baseado “na potencialidade que o traficante tinha de controle da situação”. O domínio do crime é reforçado pelo depoimento da vítima violentada, que afirma ter visto o traficante assim que saiu da casa.
No entanto, os depoimentos dos acusados, informantes e monitoramento de escutas apontam que Da Russa teria mandado cessar a sessão de estupro, assim que tomou conhecimento. A delegada ainda analisa, então, sua representação à Justiça. O mandado de prisão continua em aberto, assim como outros cinco por tráfico de drogas.
Atualmente, o Disque-Denúncia oferece R$ 1 mil por informações que levem à prisão do suspeito. O DIA procurou pelo advogado que acompanhou Raí em seu primeiro depoimento, mas não o encontrou.