Rio - A instalação de um hospital de campanha dentro do Complexo de Gericinó, com emprego do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil, conforme anunciou nesta quarta-feira o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, não foi bem recebida pelo presidente do Sindicatos dos Médicos do Rio, Jorge Darze, que atacou duramente o secretário.
“Não é a solução. Nunca foi. Isso é para livrar o governo do desgaste político e de futuros processos de vítimas de lesão corporal ou homicídios dentro de um hospital público. É uma medida de curto prazo. Uma regressão na rede hospitalar penitenciária”, disparou. Segundo ele, eram sete hospitais penitenciários, agora só há dois psiquiátricos, uma UPA e um hospital para atender o sistema carcerário, e que funciona de forma precária.
Para o especialista em segurança pública Vinicius Domingues Cavalcante, o governo deveria investir no hospital penitenciário que já existe no Rio. “O ideal é ter um hospital penitenciário que funcione. Tinha uma admiração pelo Beltrame, mas o que aconteceu no Souza Aguiar foi ridículo. Deveriam consertar o que já tem e não dar como prioridade um hospital de campanha. Estão brincando com segurança pública. Na verdade estão remediando e não prevenindo”, criticou.
Beltrame anuncia hospital de campanha. Seap não confirma
O secretário de Segurança anunciou que um hospital de campanha começará a ser construído na segunda-feira, no Complexo de Gericinó, com ajuda da Defesa Civil. Com a medida, segundo José Mariano Beltrame, presos feridos não ficariam mais em unidades hospitalares públicas ao lado de pacientes comuns. O efetivo policial empregado na custódia dos presos não seria liberado. Cerca de 100 policiais fazem esse tipo de segurança para 36 presos.
A decisão foi tomada em conjunto pelas secretarias de Segurança e Saúde, sem passar pelo aval da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária), responsável pelo Complexo Penitenciário de Bangu. A assessoria da Seap afirmou que a informação sobre a criação do hospital de campanha ainda não é oficial.
Em 2013, Erir Costa Filho, hoje secretário da Seap, foi exonerado do comando-geral da PM por Beltrame, ao publicar medida de anistia a presos administrativos da corporação. A falta de diálogo entre os dois também foi determinante para a decisão de Beltrame. Ao saber da sua exoneração na época, Erir chutou lixeiras dos corredores. Passada a Copa do Mundo de 2014, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) resolveu nomeá-lo como titular da Seap, por ser considerado um militar rigoroso.
A transferência dos traficantes foi determinada pelo juiz Eduardo Oberg na segunda-feira, após receber denúncias de uma festa no presídio e de regalias a internos. A Secretaria de Segurança e o Ministério Público também fizeram um apelo para a transferência. A Seap nega as regalias e a festa.
Quinze bandidos da facção de Fat Family são transferidos do Rio
A cúpula do Comando Vermelho — mesma facção criminosa de Nicolas Labre Pereira de Jesus, o Fat Family, resgatado domingo do Hospital Souza Aguiar — deixou nesta quarta-feira o Complexo de Gericinó, em Bangu. No total, 15 traficantes e assassinos foram transferidos para três presídios federais, localizados no Paraná, Mato Grosso do Sul e Rondônia.
Entre os transferidos está Edson Pereira Firmino, o Zaca, tio de Fat Family. A lista também tem nomes considerados de grande influência dentro da facção, como Isaías Costa Rodrigues, o Isaías do Borel; Márcio Gomes Medeiros Roque, o Marcinho do Turano; Marcelo Fonseca de Souza, o Marcelo Xará; Sandro Batista Rodrigues, o Naíba; e Davi da Conceição Carvalho, o Davi do Final Feliz.
“São presos que possuem e ainda exercem influência fora das unidades prisionais. Em razão da proximidade da Olimpíada, as transferências são de extrema necessidade”, afirmou o juiz Eduardo Oberg, da Vara de Execuções Penais (VEP). Ele disse que poderá ocorrer mais transferências. No total, 100 presos do Rio estão alocados em presídios federais de segurança máxima.
A Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), que também investiga o caso, pediu nesta quarta-feira a prisão preventiva de Fat Family, de Neversino Garcia de Jesus, o Nezinho do Vidigal — suspeito de ter comandado o resgate — e de outro suspeito de participar da ação e cujo nome não foi revelado. Durante operação para localizar Fat Family e o grupo que invadiu o hospital, cinco homens morreram na Favela do Rola, em Santa Cruz, na manhã desta quarta-feira. A ação envolve policiais de 21 batalhões da PM.
Para a transferência dos presos foi montado um grande esquema de segurança desde Bangu até a Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, onde os presos embarcaram em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), com escolta de agentes da Polícia Federal.
O esquema de segurança para o translado contou com motociclistas do Batalhão de Choque e helicóptero da PM. Blitz do 17ºBPM (Ilha do Governador) foi feita na entrada do bairro e formando congestionamento.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, pediu desculpas pela informação errada do número de policiais que faziam a escolta do traficante — em vez de cinco eram dois. Dois escoltavam outro preso e outro tinha outra tarefa na unidade. “Quero me penitenciar junto à população. Pelas informações que recebi da própria PM, fui induzido a erro. Houve uma falha importante e grave de comunicação interna”, disse ao ‘RJ TV’, da ‘TV Globo’. A divergência de informações culminou com a exoneração do comandante do 5º BPM.