Por adriano.araujo

Rio - O irlandês Patrick Joseph Hickey, membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e presidente do Comitê Olímpico da Irlanda, preso pela Polícia Civil na manhã desta quarta-feira no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca, ainda não prestou depoimento. Ele, que é acusado de participar de esquema internacional de cambismo de ingressos para os Jogos Olímpicos Rio 2016, é cardíaco e passou mal durante a chegada dos agentes.

Segundo o delegado Ricardo Barbosa, da Delegacia de Defraudações, o preso foi encaminhado para o Hospital Samaritano, também na Barra, devido à idade avançada — ele tem 71 anos,  e seu histórico cardíaco.

“O depoimento vai ser aqui (na Cidade da Polícia). A polícia levou preventivamente um médico na operação, por ele ter problemas cardíacos anteriores. O preso disse que enfartou há seis meses, então, pelo susto que tomou hoje e pela idade avançada, o médico resolveu fazer alguns exames”.

Patrick Hickey foi preso na manhã desta quarta-feira em um hotel na Barra por envolvimento com quadrilha de cambismoAFP

Emails também comprovam a ligação entre o irlandês e a empresa THG, envolvida no esquema de venda ilegal de ingressos. "Encontramos uma troca de e-mails em que um advogado alerta Hickey sobre como ele deveria agir em relação ao Comitê Olímpico, dizendo ainda que ele deveria colocar o ministro do Esporte da Irlanda “no seu devido lugar”, disse o delegado Aloysio Falcão, responsável pelo caso. 

A Justiça também decretou a prisão de outros três estrangeiros, que são considerados foragidos: o britânico Michael Glynn e os irlandeses Ken Murray e Eamonn Collins.

“A prisão preventiva assegura a conveniência da instrução criminal e a aplicação da lei penal, já que todos os envolvidos são estrangeiros e não possuem residência fixa no país, de forma que parece previsível que, caso permaneçam em liberdade, se evadirão do distrito da culpa. Cito como exemplo o caso de James Sinton, então Presidente do Grupo Marcus Evans na época da Copa do Mundo de 2014, o qual, tão logo colocado em liberdade, evadiu-se para seu país de origem”, disse a juíza Mariana Tavares Shu, do Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos.

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O delegado Aloysio Falcão explicou que o esquema era disfarçado de programa de hospitalidade, no qual os ingressos eram vendidos por valores até 30 vezes maior.

“Existe a indicação de empresas para realizar a venda dos ingressos em cada país, o Comitê Olímpico Irlandês indicou essa THG, que já tinha realizado a venda de Londres e de Socchi. Mas não foi aceita pelo COI. Então, foi constituída outra empresa, a Pro10, em abril de 2015, que foi indicada pelo comitê da Irlanda."

Policiais civis no momento em que chegaram ao hotel para cumprir mandado de prisão contra irlandês envolvido na máfia dos ingressos nas OlimpíadasReprodução Vídeo / Divulgação

Em 2014, o CEO da THG, James Sinton, foi preso pela Polícia Civil por envolvimento na “máfia dos ingressos” da Copa do Mundo. Também nessa operação, foram presos em flagrante, no dia 5 de agosto Kevin Mallon, diretor da empresa THG, e Bárbara Carnieri, quando foram apreendidos 823 ingressos.

“Todos os ingressos eram destinados a THG do grupo Marcus Evans para esse suposto programa de hospitalidade. São ingressos para eventos muito procurados, como cerimônia de abertura, de encerramento, final do futebol, que tem um valor agregado muito grande. Os ingressos vieram da Pro10, criada para pegar os ingressos para a THG e alguns, cerca de 20, são nominais para o Comitê Olímpico da Irlanda”.

Segundo Falcão, a prática ocorre “há anos” e testemunhas brasileiras apresentaram o contrato com os valores cobrados pelo programa de hospitalidade. “O Comitê da Irlanda teve vantagem financeira, os ingressos eram vendidos a preços astronômicos, tem ingresso de R$1.500 revendido a 8 mil dólares. Só o valor de face dos ingressos apreendidos dava R$600 mil, mas eram revendidos a valores até 30 vezes maiores, então estimamos em mais de R$10 milhões o valor total arrecadado no esquema”.

Na semana passada, foram decretadas as prisões de quatro diretores da empresa THG que não estão no Brasil: David Patrick Gilmore, Marcus Paul Bruce Evans, Maarten Van Os e Martin Studd. A Polícia Federal e a Interpol já foram comunicadas. Os presos e procurados foram indiciados pelos crimes de formação de quadrilha, incentivar a prática de cambismo e marketing de emboscada, crime em vigor na Olimpíada.

?Com informações da Agência Brasil

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