Por bianca.lobianco

Rio - Vizinhos da família que foi encontrada morta em um condomínio na Barra da Tijuca, na manhã desta segunda-feira, fizeram vigília, fazendo preces, durante toda a madrugada desta terça. O crime que chocou o país, culminou no assassinato de Lais Khouri, 48, morta a facadas pelo marido Nabor Coutinho Oliveira Junior, 43 anos. O pai também jogou seus dois filhos da janela do 18ª andar e em seguida se matou ao se jogar do edifício na Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso, no Condomínio Pedra de Itaúna.

Vizinhos fazem vigília em condomínio onde família foi assassinadaReprodução Vídeo

Moradores do condomínio fizeram preces pela família. A barbárie é inadimíssivel e difícil de acreditar pelos vizinhos. Ainda na manhã de ontem, agentes da Divisão de Homicídios encontraram pistas no local do crime: uma faca, a tela de proteção da varanda rasgada, por onde as crianças foram arremessadas, e uma carta escrita pelo homem que tirou a vida de sua família.

Porteiro do prédio há 14 anos, Wilton Santos contou que as vítimas eram tranquilas e nunca ouviu falar de problemas envolvendo o casal. "Eu vi as crianças ainda na barriga da mãe. A família era muito tranquila. O pai era reservado e sério, mas ela era uma mulher muito extrovertida e simpática. Nunca ouvimos sinais de brigas ou algo que desabonasse a conduta deles aqui. Ele (Nabor) sempre descia para brincar com os meninos, eles jogavam bola aqui. Ninguém esperava isso. Fomos pegos de surpresa", afirmou.

Nabor e seus dois filhos que foram arremessados pela janela Reprodução Facebook

"Eu acordei 6h20 para chamar o menino para a escola. Ouvi os barulhos, como se fossem de tiro e chamei a minha patroa, disse que estava acontecendo alguma coisa. Olhei pela janela e vi o primeiro corpo. Eu a chamei e, quando olhei para baixo, vi os outros dois corpos", contou a doméstica Lucina Salviano da Silva, que trabalha no condomínio.

Marcia Kandelman, que mora no prédio de 23 andares, disse que estava em casa com o marido quando ouviu gritos por volta de 6h30. Ela afirmou ter a impressão de que as crianças foram jogadas vivas pela janela, já que a rede de proteção do apartamento estava rasgada.

A Delegacia de Homicídios, que investiga o caso, não descarta nenhuma hipótese para o crime. Mas o delegado Fábio Cardoso admite, porém, que a mais provável seja triplo homicídio seguido de suicídio. Nabor teria assassinado a esposa e, em seguida, jogado as crianças pela janela para um minuto depois também se atirar de uma altura de 60 metros.

Lais Khouri%2C 48 anos%2C foi morta a facadas pelo marido. Após o crime%2C ele jogou os dois filhos pela janela e se matouReprodução/Facebook

No quarto dos meninos também foram encontrados uma marreta e um estilete, que podem ter sido usados pelo pai no crime.

Uma carta que teria sido escrita por Nabor também está sendo analisada pelos policiais. Nela, estão relatadas dificuldades financeiras e profissionais vividas pelo casal, além dos problemas de saúde de Laís (que tinha esclerose múltipla) e de Arthur (que sofreria de problemas no coração).

Nabor trabalhou até o mês passado na empresa de telefonia Tim, mas se desligou para abrir sua própria empresa, a N Reach Consultoria de Sistemas, em busca de salário maior, que cobrisse as despesas familiares.

“Me preocupa muito deixar minha família na mão. Sempre coloquei eles (sic) à frente de tudo ante essa decisão arriscada para ganhar mais. Mas está claro para mim que está insustentável e não vou conseguir levar adiante. Não vamos ter mais renda e não vou ter como sustentar a família. Sinto um desgosto profundo por ter falhado com tanta força, por deixar todos na mão, mas melhor acabar com tudo logo e evitar o sofrimento de todos”, diz trecho da carta.

O delegado Fábio Cardoso, no entanto, preferiu aguardar o exame grafotécnico antes de afirmar que a carta foi escrita por Nabor. “Pelo que conversamos com parentes, ele vinha se queixando de insatisfação no trabalho, mas não de problemas financeiros. E também não há histórico de problemas psicológicos”, afirmou Fábio Cardoso.

Vizinhos e amigos da família ficaram chocados a tragédia. No condomínio, ninguém havia percebido brigas entre o casal ou com os filhos. Também não havia indícios de envolvimento com drogas e álcool. “Era um casal tranquilo. Ele era mais sério. Ela, mais extrovertida, brincalhona. Vi as crianças ainda na barriga. Ninguém aqui entendeu nada. É um dia muito triste”, contou o porteiro Wilton Santos, que trabalha no condomínio há 15 anos.

A carta 

Leia na íntegra: 

Me preocupa muito deixar minha família na mão. Sempre coloquei eles à frente de tudo ante essa decisão arriscada para ganhar mais. Mas está claro para mim que está insustentável e não vou conseguir levar adiante. Não vamos ter mais renda e não vou ter como sustentar a família".

"Sinto um desgosto profundo por ter falhado com tanta força, por deixar todos na mão. Mas melhor acabar com tudo isso logo e evitar o sofrimento de todos".

"Ainda não conseguimos contratar o novo plano de saúde. (...) Com o histórico médico de Lais e de Arthur, será que aprovam? Será que não vai ficar super caro?".

Dívida

Nabor tinha uma dívida de R$ 20 mil com uma empreiteira. O mesmo valor também é cobrado a cada um dos donos das unidades no condomínio Villa Mare, na Barra Da Tijuca, onde o ex-funcionário da TIM possuia um apartamento. A divida impedia a venda do imóvel, mas não o impedia de alugar ou residir no local. A advogada responsável pela ação Bruna Kamarov, de 32 anos, não acredita que haja uma relação entre a divida e o caso. "A ação é de 2012. Ele era preocupado, mandava e-mails constantemente, mas sempre agiu de forma muito normal", contou Bruna.

Segundo a advogada, o valor cobrado pela empreiteira não passou por avaliação de pré-aprovação em assembleia e, por isso, é questionado. Também afirmou não considera a cobrança devida e que ainda aguarda a sentença favorável à todos os condôminos. Bruna também é advogada de outros moradores do prédio, que também contestam o valor na justiça. Ela disse ainda que Nabor tinha um bom relacionamento com todo grupo de donos.


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