Rio - A Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) investiga se o coronel Pedro Chavarry, oficial reformado da Polícia Militar, fez outras vítimas na comunidade Uga Uga, em Ramos, na Zona Norte. No mesmo local, ele foi preso em flagrante, na noite deste sábado, após ser visto com uma menina de 2 anos nua dentro de seu carro.
Durante uma entrevista coletiva, na tarde desta segunda-feira, os delegados Ronaldo Oliveira e Cristiana Bento disseram que depoimentos de testemunhas indicaram que ele pode ter aliciado outras crianças na comunidade. Algumas pessoas contaram que Chavarry teria viajado com algumas dessas crianças e que ele fazia trabalhos para ajudar famílias locais.
Até o momento, a família do coronel ainda não foi encontrada. Com apoio do Disque-Denúncia, a polícia procura ainda por outras possíveis vítimas de Chavarry. Segundo as investigações, uma empregada do militar reformado seria “agenciadora” de crianças para o acusado e teria levado a menina até ele. Thuane Pimenta dos Santos, de 23 anos, foi presa na manhã desta segunda-feira na comunidade Uga Uga.
A Justiça decretou sua prisão temporária e deferiu a busca e apreensão de fotografias, computadores, aparelhos de celular e documentos úteis às investigações nos endereços da mulher e do coronel.
"Ela entregou a criança para ele, isso está comprovado. Estamos buscando mais informações para precisar se ela sabia dos abusos e comprovar sua participação no crime", disse a delegada.
No fim da noite deste domingo, o promotor Bruno Lavorato pediu à juíza Maria Isabel Pena Pierati, no Plantão Judiciário, a prisão temporária da empregada, assim como a delegacia especializada. Segundo o pedido, ela teria parentesco com a mãe da vítima. A magistrada decretou a detenção de Thuane nesta segunda-feira, alegando que a "medida cautelar se faz necessária para o melhor andamento das investigações.
Chavarry é presidente da Caixa Beneficente da PM e chegou a se candidatar, sem sucesso, a deputado federal pelo PSL em 2014. Antes, porém, ele já tinha sido citado em caso de pedofilia na CPI da Alerj, que investigava esses crimes, na década de 90. O militar foi autuado por estupro de vulnerável e corrupção ativa, já que teria tentado subornar os PMs, e está preso na Unidade Prisional (antigo BEP), em Niterói.
Segundo testemunhas, no sábado, Chavarry passou na lanchonete do posto, por volta das 20h30, e fez um pedido. A vítima estava no banco de trás do carro. Quando uma funcionária do local entregou o lanche ao acusado, viu a menina nua. Essa atendente já teria visto Chavarry outro dia, no mesmo local, com um menino no veículo.
"Ela voltou ao caixa assustada e falou com a gente. Disse que a menina estava nua, de pernas abertas, e que não foi a primeira vez que viu esse homem aqui. No outro dia, era um menino”, contou outra funcionária da lanchonete.
Ao ouvir o relato, uma cliente acionou o 22º BPM (Maré). Os PMs foram ao local e prenderam o acusado em flagrante. Chavarry, que teria dito que a criança era filha de uma conhecida, ainda teria tentado suborná-los. A cena foi gravada pelos agentes e ele foi levado à Cidade da Polícia.
A investigação é conduzida pela Delegacia da Criança e Adolescente Vítima. A menina foi entregue aos responsáveis legais e o Conselho Tutelar acompanhará o caso. Após a abordagem, outros fatos intrigaram a polícia. Duas mulheres teriam aparecido no local dizendo-se responsáveis pela criança. Uma delas levou a certidão de nascimento.
Oferta de suborno gravada
Um vídeo que circula na internet mostra em que o coronel Chavarry teria tentado subornar os policiais militares que o prenderam. Na gravação, o oficial diz: “Resolvo tudo na segunda-feira. Na segunda vai fazer sol. Tá ventando, hoje. Vamos acabar com essa ocorrência”. O vídeo teria sido gravado por um dos PMs que fez a prisão de Chavarry, que se identificou como coronel na chegada dos agentes e teria tentado encerrar a ocorrência. De acordo com o relato dos PMs que participaram da prisão, o oficial ainda ofereceu vantagens e fez gestos como se estivesse oferecendo dinheiro.
Polícia apura se há quadrilha
A Polícia Militar anunciou ontem que o coronel reformado Pedro Chavarry Duarte vai responder a processo administrativo disciplinar (PAD) e submetido a Conselho Disciplinar (CD). O procedimento pode resultar na expulsão do oficial da corporação e perda ainda da remuneração decretada pelo Tribunal de Justiça. Em nota, a PM informou que repudia e combate qualquer tipo de crime.
A corporação confirmou o relato dos PMs que realizaram a prisão sobre a oferta de suborno para que o acusado saísse impune. “A equipe recusou a oferta e o conduziu preso para o registro”, afirmou a PM. O advogado do oficial não foi localizado até o fechamento desta edição para comentar as acusações.
A delegada titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav), Cristiana Bento, afirmou que chamará as testemunhas para depor novamente. “Quero falar com essas pessoas para tirar dúvidas. Falta clareza nas informações”, disse. Ela ressaltou que não descarta a possibilidade de haver outras pessoas envolvidas no esquema de entrega da criança para ser abusada. “Trabalhamos com essa hipótese sim”. A delegada vai intimar os responsáveis pela menina, que mora com mãe, pai e avó.