Por thiago.antunes

Rio - Ao nascer, a carioca Ana Luiza Faria tinha apenas 8% de visão e há seis anos perdeu completamente a capacidade de enxergar. Formada em Educação Física, a ex-paratleta ganhou medalha no Pan de 2007 como judoca.

Em 2013, se aposentou do esporte e resolveu estudar teatro em Natal (RN). Há seis meses, voltou para o Rio e agora se dedica a sua mais nova paixão: o circo. “Ainda estou me adaptando à cidade, agora completamente cega”, conta ela, uma das estrelas do espetáculo ‘Parada Shakeaspeare’, que acontece nesta quarta-feira na lona do Circo Crescer e Viver, na Praça Onze, com entrada gratuita.

Sem os movimentos das pernas%2C Rafael faz acrobacias de solo com a artista Thayane%2C que não tem deficiênciaDivulgação

Aos 40 anos, Ana Luiza brilha no trapézio e na acrobacia de solo. Já o brasiliense Rafael Ferreira, 29, no circo desde os 18 anos, faz números incríveis, como parada de mão e acrobacias de solo. Paraplégico desde que nasceu, ele vive no Rio há dois anos e vai participar da cerimônia de encerramento da Paralimpíada, domingo, no Maracanã.

Ana Luiza e Rafael fazem parte da trupe de artistas com e sem deficiência da recém-criada Cia iLtda, que realiza números de trapézio, lira, perna de pau, equilíbrio e acrobacias, provando que é possível superar limites por meio da arte. Nos 400 anos de morte de Shakespeare, a montagem faz referência a obras consagradas do autor inglês, como ‘Romeu e Julieta’, ‘Hamlet, ‘A Megera Domada’ e ‘Ricardo III’.

Parte do elenco iniciou sua formação circense no Crescer e Viver e depois de quase três anos, se lança no desafio de criar a primeira companhia de circo com pessoas com deficiência. “Lançamo-nos, mais uma vez, para inovar. Mas, desta vez, fortalecendo ainda mais estes artistas, que há muito tempo já conhecem a palavra superação e desafio, tão inerentes às artes do circo. O espetáculo é lindo, poético e é de circo!”, comemora o diretor Vinícius Daumas.

O grupo foi criado com apoio da People’s Palace Projects e faz parte do projeto ‘Circo Sem Limites’ e do Polo Carioca de Circo Crescer e Viver. Uma última apresentação ainda pode ser vista no próximo dia 20, também às 20h. O público deve chegar uma hora antes para retirar a senha: são 240 lugares. 

Deficientes sem opção

Uma pesquisa feita com 945 pessoas com alguma deficiência em dez favelas pacificadas do Rio revelou que boa parte deles ainda fica muito restrita ao espaço da própria casa, alguns com uma extrema dificuldade de locomoção.

Na lira%3A Sarah%2C que é cega%2C e AlanDivulgação

As principais opções de lazer, como “cinema, praia e shopping” foram as mais citadas, embora a maioria dos entrevistados mal se desloque pela comunidade e, menos ainda, fora dela. Foram visitados 12.456 domicíliosdurante um ano.

O ‘Mapa de Nós’, criado pela NBS Rio+Rio e o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds), mostrou que 76% dos entrevistados (a maioria jovens) não estão trabalhando, embora muitos tenham condições para isso. Os 24% que estão ativos não atuam em sua área de formação ou qualificação profissional há mais de cinco anos. A grande maioria apresenta baixa escolaridade (muitos, apenas o Ensino Fundamental) e pouca qualificação.

A maioria dos entrevistados (47%) apresenta deficiência congênita. Um terço (34%) teve a deficiência adquirida (25% por conta de acidentes ou violência urbana). Muitos (19%) não souberam responder ao certo a origem de suas limitações. Dentre os entrevistados, 46% apresentam algum tipo de deficiência física ou motora.

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