Por gabriela.mattos

Rio - O Estado do Rio encerra nesta sexta-feira um campeonato inusitado: o de corrida de pombos-correio. A prova final, comparada a uma maratona, vai reunir cerca de 800 aves desse tipo, que irão voar 1.022 quilômetros, de Salvador (BA) a Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Considerados verdadeiros atletas pelos criadores, os competidores saíram ontem dos pombais campistas em caminhão especial, rumo à capital baiana.

Alguns dos 50 criadores do Complexo do Alemão, no Rio, também enviarão suas aves para a prova, que vai encerrar um ciclo de dez competições de animais adultos ao longo deste ano. Ano que vem, os pombos-correio fluminenses deverão participar de competições internacionais, como a da Espanha, uma das mais badaladas.

“Estamos resgatando a columbofilia (prática de se criar pombos-correio para competições) na capital, que há anos estava esquecida, no Morro do Alemão”, afirma Robson da Silva Paula, um dos idealizadores da Associação Mundo Columbófilo Amigos Cariocas, em fase de implementação. Estima-se que só no Alemão já existam pelo menos 2,5 mil pombos-correio.

Termina sexta-feira o Campeonato de Corrida de Pombos-Correio%2C que reúne 800 aves que chegam a valer R%24 2 mil cada umaDivulgação

De acordo com Valtenir Soares Júnior, presidente da União Columbófila de Guarus, uma das três associações de criadores de Campos, os “esportistas de penas” vão chegar a Salvador amanhã. No dia seguinte, às 6h, na presença de fiscais e representantes de clubes, os pombos ‘corredores’ serão soltos.

"A previsão é que os primeiros cheguem já no sábado até seus pombais, em Campos”, ressalta Valtenir. Através de chips instalados nos pombos é possível, através de uma leitora, registrar o horário exato em que a ave retornou. No dia seguinte, os criadores se reúnem e checam qual pombo chegou primeiro de Salvador. O prêmio para o dono do pombo vencedor será de R$ 3,5 mil, mas os sócios das associações costumam dobrar o valor entre seus associados. Nas competições nacionais, patrocinadores, por meio da Federação Brasileira de Columbofilia (FBC), costumam dar até três automóveis e motos como recompensa.

Enaldo Silva, de 48 anos, de Guarus, ressalta que o Rstado do Rio hoje é o segundo maior do país em criadores de pombos-correio, perdendo apenas para Minas Gerais. Campos, com 480 criadores e mais de 50 mil aves do gênero, lidera o ranking entre os poucos municípios fluminenses que se dedicam à atividade. No município, a comercialização de anilhas, tornozeleira de metal que os identificam e são garantia de controle genético e de saúde, chega a 15 mil unidades por ano.

“Nós tratamos os pombos-correio como atletas de verdade. Eles começaram a treinar em abril para esta maratona”, destaca Enaldo, ressaltando que cada pombo competidor pode chegar, no exterior, a até R$ 3,5 milhões, como na Bélgica. No Brasil, podem valer até R$ 10 mil.

Os animais têm acompanhamento de veterinário, nutricionista e até preparador físico. Segundo Leonardo Pires, outro criador de Campos, os treinamentos diários antes de grandes provas, como a de sexta-feira, incluem dieta balanceada, com nutrientes e vitaminas e duas horas de vôos diários. “Depois, voltam para a concentração em seus pombais”, comenta.

Usados como mensageiros na guerra, pombos-correio são hobby

Resultado da mistura de 296 raças cada vez mais apuradas (como é caso do pitbull), os pombos-correio que habitam o imaginário romântico pela lenda do leva-e-traz de cartas entre os apaixonados, são uma espécie de ‘primos ricos’ dos pombos comuns. No Rio, a prefeitura faz campanha para que a população não alimente as aves de rua, que podem transmitir a criptococose, doença que atinge vias respiratórias.

“Até o peso é diferente. Enquanto um competidor pesa, em média, meio quilo, os pombos de rua não passam de 100 gramas”, compara o criador Enaldo Silva. “Nas escolas, ensino que não se deve matar pombos. Eles também são vítimas do desequilíbrio ecológico”, diz.

O adestramento de pombos-correio remonta ao ano de 3000 a.C. Sua principal característica é o apego ao local de criação. Por isso sempre voltam para ‘casa’. Na Segunda Guerra Mundial, eles foram usados como mensageiros entre os soldados nos campos de batalha e suas bases. Hoje, aposentados das funções militares, alimentam um hobby com cada vez mais adeptos.

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