Por bianca.lobianco
Rio - Primeiro dia de discussões sobre as medidas anticrise do governo do estado e a frente da Assembleia Legislativa do Rio se transformou em uma praça de guerra. Ruas foram interditadas, comércio fechou em parte do Centro, o VLT parou de circular, ônibus mudaram itinerário, a Igreja de São José não abriu e o Tribunal de Justiça funcionou boa parte do dia com apenas uma porta aberta nos fundos. Por volta das 9h, manifestantes já se concentraram diante da Alerj, que estava cercada por grades e tomada de policiais do Batalhão de Choque e da Força Nacional para garantir a segurança da votação de projetos na Casa. Dois caveirões deram apoio aos agentes.
Pouco depois das 11h, a Avenida Antônio Carlos já estava fechada ao trânsito, devido ao grande número de manifestantes, entre eles bombeiros, policiais e professores. Mas o confronto principal ocorreu depois do meio-dia: um grupo derrubou as grades que isolavam as escadarias do Palácio Tiradentes. Policiais usaram bombas de efeito moral, balas de borracha, spray de pimenta e jatos d’água para dispersar a multidão. A cavalaria também entrou em ação. Pelo menos seis manifestantes ficaram feridos.
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Atingido na testa por uma bala de borracha, um bombeiro que preferiu não se identificar, foi socorrido por amigos em meio à correria. “Já estava longe da agitação. A gente pedia para eles pararem mas seguiam com mais intensidade”, disse, ferido.
Manifestantes derrubam grades na Alerj e entram em confronto com o ChoqueLuiz Ackermann / Agência O Dia
O Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio instaurou procedimento para apurar a conduta policial no protesto e o uso excessivo da força. Ao iniciarem os tumultos do lado de fora da Alerj, o presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), disse que não poderia opinar sobre a confusão e iria aguardar os ânimos se acalmarem. “A polícia está monitorando e vai saber como controlar (a manifestação). Entendo que o estado passa por um momento difícil. Sei que as pessoas vivem de seus salários, mas isso não justifica violência”, disse.
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As discussões sobre o pacote começaram às 15h. Cidinha Campos (PDT) classificou os projetos de lei como “idiotas”. A deputada disse, ainda, que o governador Luiz Fernando Pezão quer deixar a responsabilidade no Legislativo “enquanto ele mesmo poderia executar as medidas”. Ela terminou seu discurso sugerindo que Pezão “peça as suas contas”.
O deputado Marcelo Freixo (PSOL) chamou o governo de irresponsável e apontou desequilíbrios no pacote: “Que urgência é essa em votar as medidas? Deveriam ter começado isso antes. Acabar com o Aluguel Social, mas não mexer no auxílio moradia dos desembargadores, juízes e promotores, não resolve. Mexer na tarifa de ônibus, e não nas isenções fiscais das empresas de ônibus, não resolve. É um pacote covarde.”

Rotina foi alterada

As ruas e o comércio próximos à Alerj tiveram a rotina alterada desde o início da manhã. Parte dos bares nas ruas paralelas fecharam as portas à tarde. Trabalhadores foram liberados antes do horário normal e os estabelecimentos comerciais entre a Rua Primeiro de Março e a Av. Rio Branco funcionaram em meia porta. Muitos manifestantes usaram camisas pretas de luto.

O trânsito na Rua Primeiro de Março ficou interditado por oito horas aproximadamente. Só voltou ao normal depois das 18h. O VLT também teve a circulação suspensa entre 14h10 e 14h45 por precaução.

Jornalistas denunciaram agressões por parte de manifestantes. Três jornalistas do Info Globo, entre eles o apresentador do programa Profissão Repórter, Caco Barcellos, da TV Globo, e um jornalista do UOL foram impedidos de exercer seu trabalho. Associações e sindicatos de jornalistas repudiaram o fato publicamente.

Manifestação de servidores terminou em tumulto nesta quarta-feiraLuiz Ackermann / Agência O Dia

PMs mudam de lado

Um dos momentos que chamaram atenção foi quando dois policiais do Batalhão de Choque, que participavam do cordão de isolamento no Palácio Tiradentes, abandonaram o cerco para se juntar aos manifestantes. Foram cumprimentados e choraram ao tomar a decisão.

Em nota oficial, a PM informou que eles não foram presos. Mas extra-oficialmente, policiais alegavam que eles tinham sido detidos administrativamente por 72 horas. Em tese, a dupla não pode ser considerada desertora e responderia por recusa à obediência. A pena é de um a dois anos detenção. Nesta quarta-feira, o Ministério Público ouviu manifestantes agredidos no ato.

A PM montou nesta quarta-feira um gabinete de crise no Quartel-General da corporação para avaliar a atuação da tropa na manifestação. A cúpula analisa quais os tipos de inquéritos serão abertos pela corregedoria.

Servidores e policiais entram em confronto em frente à AlerjMariana Ramos

?Colaborou Adriana Cruz