Por gabriela.mattos
Rio - A organização criminosa, supostamente, liderada pelo ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), faturava cerca de R$ 80 mil por dia, em dinheiro vivo (R$2,4 milhões por mês), somente da construtora Andrade Gutierrez. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), entre 2008 e 2013, R$ 176.760.253,00 saíram do “caixa 2” da empreiteira contratada pelo governo Cabral para o bolso dos acusados.
O dinheiro em espécie era entregue a Carlos Emanuel de Carvalho Miranda (preso preventivamente na Operação Calicute), que era o homem indicado pelo secretário de Governo de Cabral, Wilson Carlos Cordeiro Carvalho (também preso) para receber a propina. Os valores eram entregues tanto na sede da Andrade Gutierrez, em Botafogo, como nos escritórios de Cabral, nos bairros do Leblon e Jardim Botânico. Segundo o MPF, Miranda costumava transportar os valores em uma mochila.
Sérgio Cabral passeando de bicicleta em frente à Prefeitura de Paris%2C na França%3A uma das cenas que marcaram a gestão do ex-governador Divulgação

“O esquema de geração de numerário em espécie destinado ao pagamento de propina foi admitido pelos principais executivos da Andrade Gutierrez, entre eles Rogério Nora, Clóvis Primo e Flávio Barra”, acusa o MPF.

A investigação descobriu que a empreiteira comprava notas frias das firmas Legend – Engenheiros Associados Ltda., SP Terraplanagem Ltda., JSM Engenharia e Terraplanagem e Alpha Taxi Aéreo Ltda, empresas “de fachada” ligadas aos irmãos Adir e Samir Assad. “Eles (os Assad) alimentaram o núcleo econômico-financeiro das organizações criminosas que espoliaram não só o Estado do Rio de Janeiro,mas também outras entidades da administração pública indireta, investigadas pela Operação Lava Jato e pela Operação Saqueador”, destaca a denúncia do MPF.

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Segundo a acusação, o diretor da construtora, Rogério Nora, contou que foi o próprio Sérgio Cabral quem esclareceu como se daria o recolhimento periódico das propinas acertadas. O dinheiro que sobrava após o pagamento das propinas ficava no “caixa 2” da Andrade Gutierrez. Os contratos e notas fiscais falsos, bem como planilhas dos pagamentos foram fornecidos pela própria empreiteira, durante acordo de leniência firmado, em maio, com o MPF do Paraná.

‘Infelizmente, essa era a regra do jogo’, diz procurador sobre propina

O MPF informou que todas as obras de grande porte realizadas no Estado do Rio de 2007 a 2014, duração da gestão de Sérgio Cabral, estão sob suspeita. A afirmação foi feita pelo procurador da República Lauro Coelho Junior, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Rio.

“Nas três obras que investigamos na operação Calicute, o TCE aponta para um superfaturamento. Era cobrada uma propina de 6% em cima de cada contrato. Outras quatro empreiteiras já estão sendo investigadas”, disse.
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Segundo o procurador, a prática de cobrança de propina não deve ter ficado restrita às construtoras Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez, que aparecem no inquérito. As empreiteiras Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS, contratadas pelo estado no período, já estão sendo investigadas e aparecem em notas de rodapé nos autos que possui cerca de 2.000 páginas.

“Infelizmente essa era a regra do jogo, era como o gestor público tratava os negócios de Estado junto com as empresas privadas. Pelo menos nas obras de infraestrutura em que houve consórcios integrados pela Carioca, a Andrade Gutierrez e outras grandes empreiteiras, existe uma suspeita muito grande de que houve pagamento de propina, diante da dinâmica e da forma de atuar do ex-governador”, afirmou Augusto Vagos, outro procurador da força-tarefa.

Empresa foi batizada pelo MP de ‘escritório de Cabral’

A empresa Gralc Consultoria Empresarial Ltda (atual LRG Agropecuária) faturou durante o período do governo Cabral. Chamada pelo Ministério Público Federal (MPF) de ‘escritório de Cabral’, a empresa foi constituída em 2007, por um dos principais acusados de operar o esquema de propina: Carlos Bezerra. No primeiro ano de governo foram R$ 770.394,36.
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Os investigadores ressaltam que a empresa foi aberta com investimento quase zero e mantida com um único empregado entre 2007 e 2010. Porém não manteve nenhum um funcionário entre os anos 2011 e 2014.
Em 2013, penúltimo ano da gestão do ex-governador à frente do estado atingiu a soma de R$ 2.327.480.
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"Carlos Miranda deixou o ramo de consultoria que lhe rendeu, em sete anos, R$ 13 milhões, logo após a renúncia de Sérgio Cabral, em 2014”, enfatiza a denúncia do MPF, encaminhada à 7ª Vara Federal Criminal. Os procuradores tratam com estranheza ainda que todos recursos repassados a GRALC/LRG sejam de um único grupo econômico familiar formado por sete empresas.
Com a saída de Cabral do governo, a LRG mergulhou para o faturamento de R$ 7.508,00. Miranda passou a ser fazendeiro no interior do estado.
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Com Bruna Fantti