Por gabriela.mattos
Rio - O estado deve transferir, no prazo de até sete dias úteis, todos os pacientes internados no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, que já estão regulados pelo SER (Sistema Estadual de Regulação) e que estejam aguardando vaga em outra unidade. Isso é o que determina liminar obtida pelo Ministério Público do Rio.
A Justiça determinou, ainda, que a Secretaria de Estado de Saúde contribua para suprir a deficiência de medicamentos e insumos do hospital, que enfrenta grave crise financeira e não tem tido condições de atender os pacientes não apenas de Nova Iguaçu, mas de vários municípios vizinhos.

“A liminar vem em bom momento e espero que sensibilize o Ministério da Saúde, que tem tido uma postura lamentável, desleal e descriminatória com a população da Baixada Fluminense. Já procuramos Ministério Público, Defensoria, Cremerj, tudo o que foi possível, pois atendíamos 4 mil pacientes e agora atendemos 15 mil. Precisamos regular o abastecimento do hospital de acordo com esta demanda”, explicou Joé Sestello, diretor geral do hospital.

O Hospital da Posse recebia cerca de 4 mil pacientes por mês e passou a atender 15 mil%2C segundo o diretorDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Sem medicamentos e insumos básicos, a unidade suspendeu, recentemente, as cirurgias eletivas, reduziu a atividade ambulatorial para atender apenas os pacientes em fase de pós-operatório e intensificou a classificação de risco na emergência para que os pacientes com problemas de baixa complexidade sejam encaminhados à Unidade de Pronto Atendimento (UPA)do bairro Botafogo.

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“O governo federal não nos ajuda. Não conseguimos transferir um paciente sequer para hospitais federais. Os municípios vizinhos como Belford Roxo, Queimados, Mesquita, São João de Meriti e Japeri fecharam seus leitos e hoje temos 497 vagas para 3 milhões de pessoas”, queixou-se Sestello.
O Ministério da Saúde informou ter repassado R$ 193 milhões ao Hospital da Posse, mas a direção da unidade afirma que esta verba é suficiente para a demanda de 4 mil pacientes, não para os atuais 15 mil.
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Parentes de pacientes vivem drama

A superlotação, a dificuldade de atendimento e a ausência de medicamentos básicos têm levado parentes de pacientes do Hospital da Posse ao desespero. Muitos trazem de casa fraldas geriátricas, gaze e esparadrapo.
Jupira Santos de Almeida é uma das que têm passado por essa via crúcis. Há 12 dias ela espera por uma cirurgia para o filho Saulo dos Santos, que fraturou a perna após se acidentar de moto.
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“Falta tudo no hospital. É uma coisa inacreditável. Às vezes só tem remédio para dor. E olhe lá. Meu filho está com uma infecção na perna, cheia de pus, que não sara porque não há remédio no hospital. Ele já deveria ter passado pela cirurgia, colocado uma placa metálica na perna, mas não pode porque está infeccionado. É uma situação angustiante”, lamentou Jupira.
Atendimento é motivo de elogio
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Se a precariedade no Hospital da Posse é total, a dedicação dos funcionários da unidade de saúde tem sido muito elogiada pelos pacientes e parentes. Em meio ao caos, médicos, enfermeiros e assistentes sociais têm se desdobrado para oferecer um mínimo de dignidade a quem está internado e aos familiares.
“Meu pai, de 79 anos, fraturou o fêmur há uma semana, mas está sendo atendido com muito carinho e respeito. Não posso reclamar de falta de dedicação ou de má vontade”, disse André Luiz Neiva Bezerra, que espera a transferência do pai, José Maria, para o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).