Em depoimento à PF, Eike admitiu ter pago US$ 16,5 milhões a Cabral
Um dos advogados de defesa disse que 'a princípio não há possibilidade de delação' por parte do empresário
Por gabriela.mattos
Rio - A prisão do empresário Eike Batista já está causando estragos à defesa de seu comparsa Sérgio Cabral. Ontem, o escritório Bergher e Mattos Advogados Associados, que tinha os dois como clientes, renunciaram a todas as causas em que atuavam em favor do ex-governador do Rio. Em nota, o escritório explicou que “a decisão foi tomada após, atentos ao que dispõe o Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil, identificarem conflito de interesses no momento em que Cabral e Eike passaram a ser investigados nas Operações “Calicute” e “Eficiência” associados ao mesmo fato”. O advogado Luciano Saldanha Coelho assume a defesa de Cabral.
Eike depôs pela primeira vez, desde a prisão, na sede da Polícia Federal, na tarde de ontem. Segundo fontes, o empresário admitiu ter pago US$ 16,5 milhões (R$52 milhões) a Cabral, através de um contrato de fachada entre a Arcádia, empresa dos irmãos doleiros Renato e Marcelo Chaber, sediada no Uruguai, e a Golden Rock Foundation, de propriedade de Eike.
Uma versão bem diferente da apresentada em 30 de novembro, quando Eike, espontaneamente, foi à sede da Procuradoria da República do Rio de Janeiro, para esclarecer contrato de R$ 1 millhão, da EBX com o escritório de advocacia Ancelmo Advogados, de Adriana Ancelmo (mulher de Cabral, também presa na Operação Calicute). Na ocasião, questionado pelos procuradores, Eike Batista afirmou que jamais pagou propina a Sérgio Cabral “ou a pessoas indicadas pelo mesmo”.
Eike Batista chegou às 14h45 para depor na Delegacia de Combate à Corrupção, na sede da Polícia Federal no Rio. Ele chegou em uma caminhonete preta da PF, escoltado por outra viatura. Acostumado a trajar roupas caras, confeccionadas pelos melhores estilistas, Eike vestia uniforme de presidiário: calça jeans, camiseta e sandálias de dedo.
O empresário permaneceu 3h45 no prédio da Zona Portuária. Na saída, Eike foi escoltado pelo estacionamento até o carro da PF que o levou de volta à Cadeia Pública Bandeira Stampa, conhecida como Bangu 9, no Complexo de Gericinó. Um dos advogados dele, Fernando Martins, disse que “a princípio não há possibilidade de delação” por parte do empresário.
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Ele acompanhou o depoimento de Eike, coisa que os procuradores Eduardo El Hage e Leonardo de Freitas, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Rio, não fizeram, já que ambos já haviam deixado o local, quando o presidiário chegou. A Polícia Federal informou que não divulgaria o teor do depoimento. A Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP) disse que, até às 16h de ontem, nenhum familiar registrou pedido de visitação a Eike Batista, no Complexo Penitenciário de Gericinó.
‘Não largou o travesseiro’
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"Não largou o travesseiro em momento algum. O rosto dele mudou quando viu a entrada da cadeia de Bangu e falou: f....!”. O relato é de um agente penitenciário que viu a chegada de Eike Batista a Bangu 9. O presído, dentro do Complexo de Gericinó, tem capacidade para 541 detentos e, atualmente, conta com 422. Na cela de número 12, onde está Eike, há um ventilador e uma TV. Imagens da TV Globo mostraram o interior da unidade, com uma garrafa de água mineral, travesseiro, lençol e uma Bíblia sobre a cama superior de um beliche, onde dormiu o empresário.
Na cela de Eike, estão outros cinco detentos. Dois deles presos na mesma operação: Álvaro José Galliez Novis, considerado pelo MPF peça-chave no esquema de lavagem de dinheiro de Cabral, e Wagner Jordão Garcia, acusado de ser um dos operadores financeiros do grupo.
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Protestos e um ‘Thor’ na chegada à PF
Na chegada de Eike Batista à sede da polícia federal do Rio, ontem às 14h45, algumas pessoas o esperavam do lado de fora e entoaram gritos de “ladrão, ladrão” no momento do desembarque. Eike estava com uniforme de preso: calça jeans, camiseta e sandálias.Entre os curiosos que foram à sede da PF, um homem estava fantasiado do super-herói Thor, mesmo nome de um dos filhos do empresário.
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O cardápio de Bangu 9 foi mais um choque na mudança de vida encarada por Eike Batista desde segunda-feira, quando foi preso. O café da manhã, nada de croissants, geleias importadas e queijos finos. No lugar das iguarias que ele estava acostumado, uma média com pão com manteiga (R$ 3 no mercado). O almoço de ontem foi arroz, feijão, salsicha e farofa, com refresco e fruta ou doce. No lanche, outro refresco e um bolo.