Após perder a audição, jovem passa em Filosofia na PUC
Bernardo Lucas Piñon de Manfredi, 19 anos, nasceu saudável, mas contraiu uma bactéria que o tornou deficiente auditivo
Por bianca.lobianco
Rio - Ele foi o único sobrevivente da maternidade onde nasceu, em Cabo Frio, após uma grave infecção hospitalar afetar dezenas de bebês. Bernardo Lucas Piñon de Manfredi, 19 anos, nasceu saudável, mas contraiu uma bactéria que o tornou deficiente auditivo. Mesmo desacreditado pelos médicos diante de sequelas que teria na infância, como o autismo, Bernardo cresceu. Com uma surdez “severa e profunda” diagnosticada, encarou as dificuldades e hoje é o mais novo aluno de Filosofia da PUC. Ainda este semestre pretende lançar um livro sobre esse tema, que o encanta desde os 13 anos.
Não quis aprender Libras, a língua de sinais. “Isso me tornaria diferente dos outros, e sou uma pessoa normal.” Com o suporte do Colégio Palas, que o recebeu de braços abertos para o Ensino Médio preparatório, Bernardo vai começar daqui a um mês o curso de Licenciatura em Filosofia pela PUC-Rio, onde foi aprovado em 4º lugar através do Enem e em 7º lugar no vestibular geral da universidade. Na UFRJ ele alcançou a 2ª posição para o mesmo curso. Ah, e na Redação do Enem, conseguiu nota mil. Felicidade é pouco ou não é para a Família Piñon?
O que parecia o fim para os médicos, para a mãe de Bernardo, Dona Carmen Terezinha Piñon, era apenas o início de uma jornada difícil, mas regada, sempre, a muito amor. “Não podia desistir do meu filho. Não era uma opção”. Na alfabetização ele deu um salto grande e desenvolveu muito bem a fala e a escrita, conta a mãe. “Tem dificuldade para escrever por conta dos espasmos. Para o vestibular, ele teve uma equipe para transcrever a redação e marcar o cartão de respostas por ele. Imagina ter que ditar cada palavra e cada pontuação. É um rigor absoluto. Foi assim na PUC e no Enem”, explicou Carmen, que estuda Comunicação e vai lançar um livro sobre a história do filho.
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APOIO VITAL DOS MESTRES
Como ele não conhece Libras nem braile, conta que sua dedicação em sala de aula sempre foi redobrada. Principalmente no Palas; e ressalta um carinho especial pelo professor de História Jorge Luiz. “Tinha que entender o que os professores diziam e ao mesmo tempo aprender o conteúdo. Foram muito pacientes, não tenho o que reclamar”.
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Mas, além da aprovação no vestibular, Bernardo conta que no Palas fez seus melhores amigos. “Não fazia questão de amizades, as pessoas não entendiam o que eu falava nem os meus problemas, então ficava na minha, mas aos poucos foram descobrindo a minha surdez e fui sendo recebido por todos. Fui até escolhido orador na formatura. A surdez te coloca numa solidão tão grande, mas com amigos tudo fica melhor”, diz.
Não por acaso, a atração pela Filosofia vem de berço. Bernardo é sobrinho da escritora imortal Nélida Piñon, que, segundo a família, está ansiosa para reencontrar o sobrinho após a novidade.
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A confiança que fez toda diferença
Devorador de livros, Bernardo diz que sua segunda casa é a livraria que funciona perto de casa, na Tijuca. No início dos anos 2000, ele criou um blog e teve até uma de suas poesias utilizada em uma prova na escola de uma amiga.
Como sempre tirava boas notas, a mãe de Bernardo, Dona Carmen, investiu na educação do menino prodígio, que passou nos testes de conhecimento para o projeto Vencer do Instituto Ayrton Senna e do projeto Ismart, preparatórios, mas foi recusado nas entrevistas sociais de ambos. Ao saber dos resultados, Carmen tentou uma bolsa no Colégio Palas. “O diretor disse que, se ele passasse na prova de conhecimento, seria acolhido. E assim foi. Ali ele decolou”, conta a mãe, feliz. “No Palas me senti muito mais confiante, o colégio me preparou de verdade”, atesta Bernardo.