Rio - A ex-primeira dama Adriana Ancelmo já conta as horas para deixar o Complexo Penitenciário de Bangu e voltar para sua confortável residência, no Leblon. O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, determinou na tarde desta segunda-feira um prazo de 24 horas para que o apartamento da família seja vistoriado pela Polícia Federal, de modo a atender as providências determinadas pela Justiça para que seja cumprida a ordem de prisão domiciliar.
Nesta segunda, cartazes em sinal de protesto contra a soltura de Adriana Ancelmo foram afixados na Praia do Leblon e na Avenida Delfim Moreira, esquina com a Rua Aristides Espínola, onde mora a família Cabral —um dos endereços mais caros do Rio de Janeiro. Frases como ‘Devolvam nosso dinheiro’ e ‘Vergonha - Aqui mora a organização criminosa Família Cabral’ eram expostas nos cartazes. Houve também panelaço em frente ao prédio.
“Ela (Adriana) continua presa. O que foi aplicado a ela é a lei, o que deve ser aplicado a outras presas também”, justificou o advogado de defesa de Adriana, Alexandre Lopes de Oliveira, em entrevista ao ‘RJTV’. Para obter a decisão, ele argumentou que a lei assegura que filhos de até 12 anos não podem ficar sem um dos pais.
Como o ex-governador Sérgio Cabral também está preso, Adriana deveria ser solta para cuidar dos filhos do casal, que têm 10 e 14 anos. De acordo com a reportagem, a Polícia Federal informou que vai “fiscalizar o entra-e-sai na residência” de Cabral e só poderão entrar na casa pessoas com autorização da Justiça.
A prisão domiciliar de Adriana foi determinada pelo juiz Marcelo Bretas em 17 de março. O Ministério Público Federal (MPF) recorreu e três dias depois o desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, entendeu que não havia fatos novos para justificar a prisão domiciliar e que outras mulheres presas preventivamente não teriam o mesmo direito. A decisão, no entanto, foi derrubada na sexta-feira pela ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Ela entendeu que Adriana deveria ter direito à prisão domiciliar, desde que ficasse afastada das empresas envolvidas na denúncia; tivesse o passaporte confiscado e que fosse impedida de ter acesso a qualquer forma de comunicação por meio eletrônico, via telefone ou internet. Pela decisão, Adriana só poderá deixar a residência para alguma emergência médica. As visitas ao apartamento também não podem usar aparelhos de celular.
O filho de Sérgio Cabral, Marco Antonio Neves Cabral, informou que contratou a empresa Brasil Eletronics para desligar os aparelhos de telefone, internet e wi-fi da residência. Porém, só depois que a Polícia Federal atestar isso é que Adriana poderá voltar para casa.
A ex-primeira dama, que é advogada, foi presa no início de dezembro por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ela e o ex-governador são acusados de realizar gastos de R$ 6 milhões só em joias.
R$ 260 mil só em ternos
A Justiça Federal no Paraná ouviu nesta segunda 17 testemunhas em um dos processos em que Adriana Ancelmo e Sérgio Cabral são réus. Trata-se da ação que investiga cobrança de propina por obras no Comperj. Testemunhas de acusação revelaram o esquema usado pelo casal para se vestir com roupas e joias caras e lavar dinheiro.
Cabral gastou quase 260 mil reais em ternos bem cortados, encomendados no exterior e pagos a prestações e em dinheiro vivo, para não chamar a atenção dos órgãos de fiscalização financeira. Em março de 2014, Adriana gastou R$ 57 mil na compra de seis vestidos. Em agosto de 2014, o casal gastou R$ 58 mil para blindar um carro.